Parte do material, como as fotos tiradas por Flávio no Peru, na expedição aos Andes, nunca foi exposta, de acordo com o curador. Essa coleção, em especial, foi organizada por um método semelhante ao proposto pelo filósofo alemão Aby Warburg, em que as imagens são agrupadas por semelhanças, em detrimento de critérios espaciais ou históricos. “A maneira como ele dispõe as fotografias no álbum, nas pranchas, lembra muito os procedimentos do Warburg. Fazendo relações entre imagens que se repetem”, enfatiza o curador. Porém, apesar da semelhança no método, Rezende destaca que Flávio não conhecia o trabalho do alemão.
Da Europa à Amazônia
Os registros foram selecionados a partir do acervo deixado pelo multiartista – Flávio foi pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor, teatrólogo, engenheiro e performer – para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A primeira das viagens de Flávio, realizada entre 1934 e 1935, foi a expedição à Europa, que rendeu uma série de ensaios reunidos no livro Os Ossos do Mundo.
Podem ser vistas também imagens da jornada à Amazônia (1956), amplamente noticiada pela imprensa à época devido a série de extravagâncias do projeto. Flávio pretendia fazer um longa-metragem colorido – A Deusa Branca –, misturando ficção e documentação. Na exposição será exibido um filme que retrata os diversos percalços enfrentados pelo grupo e os equipamentos cinematográficos na floresta.
Além da abordagem não usual de pensar Flávio de Carvalho como um artista-etnográfico, Rezende explica que a mostra também leva a compreender a arte brasileira que surge depois do neoconcretismo, que tem como nomes-chave Hélio Oiticica e Lygia Clark.
Uma das ações mais conhecidas de Flávio é a Experiência nº 2, quando, em 1931 quase foi linchado por uma multidão ao caminhar contra uma procissão usando boné, em sinal de evidente desrespeito. Em 1956, desfilou com uma espécie de vestido pelas ruas da cidade de São Paulo, novamente provocando espanto. (Daniel Mello/Agência Brasil)