.Por Verônica Lazzeroni Del Cet.
Essas são as ideias do projeto Baú das Letras, que vem transformando o contato e o percurso de leitura de crianças do Brasil.
Desde fevereiro de 2012, o projeto – criado e comandado por Fernanda Vieira da Silva , 31 – teve origem no interior do estado de São Paulo, em Taubaté, mas atualmente atua no Sertão do Piauí. Desde que Fernanda cursava psicologia em 2005, a vontade em elaborar e realizar um projeto social foi se consolidando até finalmente ser posto em prática. “Desde seu começo o projeto foi uma iniciativa pessoal, sem fins lucrativos e sem relação com nenhuma esfera governamental”, afirma Fernanda. Sua inspiração veio da infância, quando com sua mãe tinha momentos de leitura, além do exemplo de ações sociais praticadas pela figura materna.
Baú das Letras: o começo de tudo
E justamente ao levar o projeto para locais onde as crianças dificilmente têm acesso aos livros, que Fernanda fez cumprir o principal objetivo e que é ainda o mesmo para a atuação no Piauí atualmente, inclusive, contribuindo com a construção do senso crítico. “O objetivo sempre foi fazer com que crianças, nos lugares mais sem acesso, tenham acesso à literatura de qualidade, contribuindo com a formação de leitores e com uma sociedade emancipada através do senso crítico, humano e estético formado a partir do contato com os livros”, diz Fernanda.
O acervo literário do Baú das Letras
O projeto nunca teve patrocínio, mas teve conquistas notáveis e, consequentemente, ajuda financeira que viabilizou a compra de novos livros. “Em 2015 participei de um Edital do Ministério da Cultura e o Baú das Letras foi selecionado. Com a verba do prêmio compramos muitos livros e pude trazer todo o material para o sertão do Piauí quando me mudei em 2016”, diz Fernanda. Ela ainda explica que a arrecadação de livros atualmente acontece por meio da Campanha do Itaú, já que muitos que pedem livros, através da campanha, doam para o Baú das Letras.
Baú das Letras no Sertão do Piauí
O projeto não conta com ajuda de organizações e nem patrocínios, mas estabeleceu uma parceria com o projeto CADI Sertão (organização não governamental cristã), conseguindo mais chances de atuação onde está estabelecido no momento. “Por causa dessa parceria hoje estamos atuando juntamente ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) da cidade em atividades semanais de incentivo à leitura para as crianças”, afirma Fernanda.
As atividades realizadas semanalmente variam constantemente. “É importante diversificar as atividades”, comenta Fernanda. No primeiro semestre deste ano, Baú das Letras aconteceu em escolas e no quilombo localizado na região, sendo que as atividades de leitura aconteciam no momento do reforço escolar. No momento atual a parceria com o CRAIS da cidade diversificou as atividades de leitura. O projeto agora comanda quatro turmas, divididas de acordo com a faixa etária, sendo que as atividades acontecem às terças e quartas-feiras, com duas horas de duração. “Eu procuro sempre ler um livro com eles, às vezes dá para fazer leitura compartilhada quando ganhamos um livro que já temos no baú. Desse modo, cada um na roda lê um pedaço da história”, diz.
Fernanda ainda destaca o fato de que a parceria com a prefeitura coloca como parte das atividades a discussão dos valores, portanto, a leitura de livros sobre respeito, amizade, entre outros temas. “Passamos vídeos sobre temas atuais e sobre os valores humanos. Depois sempre iniciamos uma conversa”, conta.
O projeto não consegue doar livros para todas as crianças, nem mesmo em todos os momentos em que acontecem os encontros semanais, mas Fernanda afirma que pode emprestar livros e também acontece de dar outros quando recebe repetido. Além disso, o projeto visa estabelecer o contato da criança com a literatura comum da região em que está, como no caso da literatura de cordel. “Tivemos o dia da poesia. Eu li uma poesia para eles e também aproveitamos para falar sobre a leitura de cordel, que é típica do Nordeste”, relata Fernanda.
Perspectiva do futuro para o Baú das Letras
O projeto não encontra tantas dificuldades para continuar atuando, mas Fernanda admite que um desafio é fazer com que algumas crianças criem o hábito de leitura, já que algumas delas não têm. A intenção do projeto não é parar, mesmo desconhecendo com exatidão quais serão os planos futuros. “Não consigo deixar de incentivar a leitura. Não quero deixar o projeto morrer”, diz Fernanda.
A entrevistada diz que a ideia é que a sua causa seja ampliada e que outras pessoas sejam influenciadas. “Recebi várias mensagens de pessoas contando que criaram projetos de incentivo à leitura com a inspiração do Baú das Letras”, diz ela. E dessa inspiração, Baú das Letras continua atuante. “A leitura emancipa o indivíduo. Ele pode fazer escolhas. Não será mais um indivíduo alienado. Essa é a perspectiva singular do projeto”, conta Fernanda.
Conheça a página no Facebook do projeto Baú das Letras e o blog.
Todas as fotos: Baú das Letras