Em 2017, o Teat(r)o Oficina celebra os 50 anos da montagem de O Rei da Vela – encenada no fogo das reviradas de 67.
Com aproximadamente 3h e dois intervalos, esta peça de Oswald de Andrade e sua encenação cinquentenária é obra de arte plástica ao vivo no palco italiano. A montagem celebra também os 80 anos de Zé Celso e de Renato Borghi que, juntos, novamente contracenam com o artista Hélio Eichbauer e seu magnífico cenário original com palco giratório e telões pintados.
Escrito em 1933 pelo poeta Oswald de Andrade, e publicado em 1937, o texto virou peça, virou filme e agora retorna peça. Atravessando o espaço-tempo na velocidade antropófaga, O Rei da Vela devora em Paródia TragíCômicaOrgiástica o Brasil Colônia que agora também retorna.
Sua 1ª Encenação sincronizada na explosão da Tropicália, da Terra em Transe, do movimento de descolonização do Brasil na Primavera Cultural de 1967, em plena ditadura civil, militar, teve o poder de se despedir da 4ª parede do Palco Italiano, revendo toda dramaturgia da história mundial através da devoração Poética de Oswald de Andrade.
Encenada hoje, esta Obra de Arte tem o poder de acender a vela da percepção no labirinto dos nossos cérebros, intestinos, sexos, corpos e desperta o apetite de devoração deste estado de espera imposto pelas cri$es.
Sinopse:
No escritório de usura de Abelardo & Abelardo, o protagonista Abelardo I (Renato Borghi e Marcelo Drummond), banqueiro, agiota, o Rei da Vela, com seu domador de feras, o empregado socialista Abelardo II (Túlio Starling) subjugam clientes numa jaula – devedores, impontuais, protestados… Burguês, Abelardo faz um negócio para a compra de um brasão: casar com Heloísa de Lesbos (Sylvia Prado) que se negocia como valiosa mercadoria para manutenção da família, falida pela crise do café, no seleto grupo dos 5% da elite. Abelardo I, submisso ao capital estrangeiro do Americano (Elcio Nogueira Seixas), no terceiro ato leva um golpe de Abelardo II, que o sucede na manutenção da usura do capital.
Ainda fazem parte do coro de protagonistas: Camila Mota, Danielle Rosa, Joana Medeiros, Regina França, Ricardo Bittencourt, Roderick Himeros, Tony Reis e Vera Barreto Leite.
Em que sentido a dramaturgia de O Rei da Vela rompe com a dramaturgia tradicional?
No sentido de recusar a idéia de uma “pré-idéia” do que deve ser uma peça. Uma peça de teatro, nos livros de dramaturgia, é ataque – conflito – clímax – resolução – catarse, ou mais ou menos isso, sendo a peça mais ou menos aristotélica. Teatro “é” assim ou assado.
Oswald esquece, ignora tudo isso. Parte para invenção do seu teatro: não-linear, de colagem. Devora todas as formas dramatúrgicas possíveis. Acreditando que a forma teatral é sempre expressão de um conteúdo, cita tudo o que pode citar. Usa formas teatrais e não teatrais: circenses, literárias, subliterárias… e expressa assim tudo que pretende. Não parte do ponto de vista que quer utilizar uma peça para expor linearmente uma idéia pressuposta, um tema, uma tese, ou seja lá o que for, como desenvolvimento de uma ação. Sua obra é o mais modernamente aberta possível, no sentido de Umberto Eco. É barroca, se intromete em tudo, dá palpites sobre tudo, devora e utiliza tudo. Um impurismo total. Sua única grande fidelidade se encontra no seu sentido anárquico de apreensão do mundo, utilizando não somente as coisas em si, mas as formas artísticas e subartísticas através das quais essas coisas se expressam. Em relação à dramaturgia brasileira, então, sua grande lição é a coragem da criação, a falta de medo do certo ou do errado, do mau ou do bom gosto, que faz com que ele invente seus próprios valores na sua própria obra.
Esta não tem preocupações de fidelidade a uma visão engajada conforme a cartilha de algum partido, não tem ortodoxia nenhuma. Não tem problemas de forma: entra com literatura, música, conferência, discurso, chanchada, obscenidade etc. Tudo é linguagem.
Oswald fez para o teatro brasileiro tudo o que tem feito em todos os outros setores artísticos. A eliminação de limites e barreiras nos gêneros, a intercomunicação geral. A arte colocando toda a experiência de significar o mundo e o mundo como experiência estética. Nesse sentido ele descobre uma forma de expressão totalmente brasileira, um pop brasileiro quando ainda não se falava em pop.
Zé Celso em entrevista realizada por Tite Lemos, aParte, nº 1, TUSP, março e abril de 1968
Os ingressos para a apresentação variam entre R$ 15,00 e R$ 50,00 e podem ser adquiridos no Portal do Sesc ou nas Unidades. O Sesc Pinheiros traz ainda outras atividades paralelas em comemoração aos 50 anos da montagem de “O Rei da Vela”. Veja mais informações sobre “O Rei da Vela” no site do Teat(r)o Oficina. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Ficha Técnica
Texto | Oswald de Andrade
Diretor | Zé Celso
Conselheira poeta | Catherine Hirsh
Assistente do diretor | Cyro Moraes
Elenco | Renato Borghi, Marcelo Drummond, Sylvia Prado, Camila Mota, Tulio Starling, Ricardo Bittencourt, Regina França, Roderick Himeros, Elcio Nogueira Seixas, Joana Medeiros, Daniele Rosa, Tony Reis e Zé Celso.
Ponto | Nash Laila
Canção de Jujuba | letra de Oswald de Andrade e música de Caetano Veloso
Diretor de arte | Hélio Eichbauer
Assistente do diretor de arte | Luiz Henrique Sá
Arquitetura cênica | Carila Matzenbacher E Marilia Gallmeister
Diretor de cena | Otto Barros
Crontraregra | Vinicius Alves
Cenotécnico e Contraregra | Alicio Silva
Costura cenogáfica | Oneide Cauduro
Aderecistas | Igor Alexandre Martins e Andrea Guzman
Criador do bonecão Abelardo I | Ricardo Costa
Criadora da cobra de Abelardo I | Lala Martinez Corrêa
Pintura artística | Vicent Guilnoto
Figurinista | Gabriela Campos
Assistente de figurino | Marcela Lupiano
Estagiário de figurino | Lucas Andrade
Alfaiate | Lello
Costureiras| Judite Lima, Cris Mike, Joana e Salete
Sapateiro | Davi e Pedro (Free Sapataria)
Camareira | Cida Melo
Maquiadora | Beatriz Sergio de Barros
Assistente de Maquiagem | Camila Barros
Iluminador | Beto Bruel
Operador de luz | Ricardo Morañez
Operadores do canhão de luz | Luana Della Crist e Pedro Felizes
Montagem da luz | Pedro Felizes e Renato Banti
Sonoplasta | Andréia Regeni
Operador de som e microfone | Rodolfo Yadoya
Diretor de vídeo / Câmera | Igor Marotti
Câmera | Cafira Zoé
Diretora de produção | Ana Rubia Melo
Produtor executivo e administrador | Anderson Puchetti
Assistente de produção | Ederson Barroso
Comunicação, editoração do programa e textos | Brenda Amaral, Cafira Zoé e Camila Mota
Ilustrações de cenários e figurinos | Hélio Eichbauer
Design gráfico, ilustrações e diagramação do programa | Igor Marotti
Fotografias do elenco 2017 | Jennifer Glass
Programação web | Brenda Amaral
Pesquisa de imaginário / Makumbas gráphicas | Cafira Zoé e Camila Mota
Arquivista | Thais Sandri
Local: Teatro Paulo Autran
Duração: 3h30 (com 2 intervalos de 20 minutos cada).
Recomendação etária: 16 anos.
Não é permitida a entrada após o início do espetáculo.
Venda limitada a 4 ingressos por pessoa.