.Por Marcelo Sguassábia.
Estroigros, o mito, emprestou generosamente seu talento, sempre remunerado a peso de ouro, em troca de um salário de zinco. Resolveu encarar a empreitada como um esforço de guerra e um desafio descomunal à sua notória habilidade com as caçarolas.
O custo final agradou em cheio o populacho. Como na culinária francesa a quantidade de comida é inversamente proporcional à complexidade do prato, as quentinhas eram do tamanho de uma forma de empada, permitindo jogar o preço lá embaixo. O grande problema é que um estivador do porto sai para o almoço verde de fome, disposto a engolir talheres, guardanapo, mesa e cadeira junto com a comida. E quando lhe entregavam o marmitex de grife que mais parecia uma latinha de Pastilhas Valda, irava-se com o motoqueiro e recusava-se a passar o seu cartão Sodex na maquininha, dizendo-se lesado e prometendo relatar o imbróglio todo no “Reclame Aqui”.
Para cada marmitex entregue, correspondiam quatro ou cinco posts destruidores nas redes sociais. A estratégia, a princípio tão original e promissora, ia de mal a muitíssimo pior.
E assim a coisa foi degringolando. Para entregar comida em quantidade industrial, o “grude” teria que ser de péssima qualidade – o que faria de Estroigros um ingrediente dispensável, mandando “a la merde” o único diferencial do negócio. Se continuasse primando pela excelência, seria forçado a abandonar o segmento de quentinhas e voltar ao velho QG, na esperança da crise ir embora e o cliente voltar. Estroigros não sabe o que fazer. E faltam dez para o meio dia.