Campinas pode ser considerada a primeira cidade que sediou um baile de música black do estado de São Paulo. Na sustentação dessa constatação está Big Martins, o disc jockey (DJ) responsável pelo “Baile da Raça”, realizado na década de 1970. Antes, os bailes já existiam no estilo samba e rock. Mas só depois de DJs divulgarem o soul/funk, que o estilo se popularizou e tomou conta de varias festas no Brasil.
“A Black Music começou na periferia”, diz Big Martins sobre seus primeiros bailes no Boa Vista, bairro popular de Campinas. “É o baile astral que vale ouro”, completa. Suas referências são das mais variadas e vão de James Brown, San Cookie e Jhonny Guitar Watson.
O que está por trás desses eventos não é só a amplificação das músicas que estão sendo discotecadas. É também o acúmulo de conhecimento de repertório que o DJ realiza antes de suas apresentações. E Big Martins é uma grande referência quando o assunto é a pesquisa musical. Décadas depois de seu primeiro baile, o disc jockey contribuiu para a formação das bases instrumentais de grupos de rap como Sistema Negro; e continua a influenciar o gosto musical de um sem número de DJs, dançarinos, músicos e das milhares de pessoas que já frequentaram seus bailes.
O colecionador de discos, discotecário e comerciante Riva também considera a pesquisa como momento importante da divulgação da música. Vendedor de discos de vinil, CDs e outros itens musicais há 17 anos, disse que sua principal tarefa é “divulgar o máximo de musica brasileira, e outros estilos, para que as pessoas conheçam nomes como Moacir Santos, Baden Powell”. Desde a década de 80 tem dedicado muito tempo em ouvir e conhecer músicas de diversas vertentes. Dentre as suas principais influências estão a música brasileira de diversos estados, e a música afroamericana como blues, jazz, funk e rock. Durantes essas décadas, Riva foi responsável por produzir diversos eventos culturais na cidade de Campinas.
Apaixonado pela música popular brasileira, Riva diz que adora as melodias da Bossa Nova, estilo que se voltou para um público mais elitizado, mas, segundo ele, ninguém supera as composições de Cartola e Nelson Cavaquinho.
Igualmente antenado na música brasileira, Vinícius Xegado (DJ Xegado) considera que o resgate dos sons regionais brasileiros também é um trabalho importante a ser feito e divulgado. Ele faz parte da nova geração de discotecários residentes em Campinas. Está na cidade há 7 anos, e faz questão de reafirmar sua origem: “sou do bairro Bom Jesus, em Uberlândia, interior de Minas Gerais, onde cresci vendo os ternos de congadas, e essa vivência, como sendo algo da minha terra, me influenciou a conhecer mais sobre a música regional de outros lugares do Brasil”.
DJ residente de alguns bares e casas de Campinas, Xegado teve a iniciativa de realizar um evento para se reunir com duas de suas referências: “O Big e o Riva são grandes amigos com quem aprendo muito, me sinto honrado em discotecar com eles. Eu e Riva já fizemos outras parcerias, mas com o Big vai ser a primeira vez”.
O evento se propõe a apresentar ao público três gerações de discotecários que apresentarão os repertórios exclusivamente em discos de vinil, e que se aprofundaram em universos musicais específicos porém interligados.
“Espero que quem esteja lá, veja três referências de disc jockeys fora do comum”, diz Big Martins. E conclui: “dedico esse evento ao meu guru Big Boy e ao Pedrinho Nitroglicerina.”
O evento acontece na próxima quinta-feira, 14 de setembro, com início às 22hs, no Echos Studio Bar, em Barão Geraldo, distrito de Campinas SP. A entrada é gratuita.