Esta é a primeira parte do trabalho de pesquisa do grupo sobre heranças e descaracterização da cultura e da sabedoria popular, pelo esquecimento das raízes que moldaram o ser brasileiro.
A montagem explora o que resta no cotidiano das pessoas dos ensinamentos populares, bem como da função social da dança e das festas tradicionais. Segundo o diretor, “em cena está a comida típica, o encontro, a música, a fé, o sincretismo. São elementos de celebração que se perdem no íntimo de pessoas que se ‘afogam’ nas cidades, imersas no conflito de viver ou cumprir a existência de forma burocrática”.
No enredo, vagando por um mundo apático, Lourdes (Gabriela Morato), Benedito Messias (Anderson Negreiro) e Fulozina (Elena Vago) são espíritos do interior do Brasil atrás de pessoas que os enxergue, enquanto distribuem afeto como trabalho. No caminho encontram uma comunidade formada por pessoas expulsas do convívio social, que resolvem levar a vida em festa. Aos poucos o sonho sucumbe à realidade.
A Gente Submersa reúne 23 artistas, entre atores e músicos que transitam pelo teatro, pela dança e por outras linguagens, amparados por composições originais e canções de domínio público. O figurino traz elementos de técnicas artesanais como renda filé, bordados, crochê e tricô, construindo memórias também nos corpos que ocupam o Teatro do Incêndio: um espaço em formato de arena triangular, mantendo as características arquitetônicas originais do local que tem sua própria história.
Marcelo Fonseca explica que, após realizar O Santo Dialético, peça sobre a perda da essência da formação do brasileiro, teve o desejo de trabalhar outro viés da nossa origem: como se deu a formação do brasileiro. “Fui buscar os saberes populares, as danças e as festas que vêm sendo esquecidas. A hereditariedade não nos é ensinada, está na genética. A necessidade de sobrevivência esconde o desejo de felicidade, tendo à frente o poder institucionalizado”. O dramaturgo ainda afirma que a peça ressalta que o importante são as pessoas, a observação do outro. “Não é o governo que transforma o mundo. São as pessoas! O espetáculo é uma celebração da vida, onde o profano e o sagrado estão em comunhão, pois a vida não é o cotidiano, não é o trabalho”, finaliza.
O enredo de A Gente Submersa é conduzido por três personagens, figuras alegóricas da sabedoria popular (Lourdes, Benedito Messias e Fulozina), que vivem uma fábula que se concretiza na cidade. São pessoas centenárias, velhos de espírito juvenil que atravessaram os tempos. Eles seguem pelo mundo, mas os lugares por onde passam e tudo o que vivem vai sendo apagado. Quando chegam à cidade se tornam invisíveis, ocupam um espaço, mas são expulsos pela polícia. Conduzidos por um velho vendedor de relógios, eles chegam a um lugar (quilombo), povoado por pessoas que fugiram da metrópole, onde são vistos e aceitos. O velho representa o tempo, a sabedoria e os ensinamentos dos mais velhos, dos nossos antepassados. Sem dinheiro, as pessoas do quilombo trocam conhecimentos, como aprender a ler e escrever desenhando letras com tintas nas mãos. Lourdes, Benedito e Fulozina ensinam cultura popular para os integrantes da comunidade que passa a viver em um calendário de festas (congada, maculelê, jongo). Mas o desmatamento chega e destrói o quilombo mostrando o ciclo sem fim da destruição.
O novo teatro – A esquina da Rua 13 de Maio com Rua Santo Antônio é a porta de entrada para o Bixiga. O famoso casarão, que tem sua fachada tombada como patrimônio histórico do município, abrigou a antiga Boate Igrejinha, frequentada por nomes como Dalva de Oliveira, onde a cantora Maysa fez sua última temporada e Grande Otelo realizou o show em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Mais tarde, se tornou o Café Soçaite, um dos principais redutos da boemia paulistana dos anos 80.
A parede externa de entrada do Teatro do Incêndio tornou-se um grande painel com a inscrição de 376 nomes de artistas de real importância na história cultural. Entre os homenageados, Tom Jobim, Cacilda Becker, Plínio Marcos, Flávio Império, Mário de Andrade, Carolina de Jesus, Maysa, Geraldo Filme, Roberto Piva, José Celso Martinez Corrêa, Batatinha, Ariano Suassuna, Darcy Ribeiro, Antônio Cândido, Ruth Rachou, José do Patrocínio e Lygia Clark.
A sede própria é uma conquista de 21 anos de estrada do grupo. O espaço foi comprado por Marcelo Marcus Fonseca, em março de 2017, e consolida-se, definitivamente, como um teatro para a cidade de São Paulo.
Antes mesmo da inauguração, período de reformas internas e obras de adequação, o no Teatro do incêndio já recebeu eventos de cultura popular com Dona Anicide Toledo e o Samba de Umbigada, o Bale Folclórico de São Paulo, a Comunidade Jongueira de Tamandaré e o toré da Aldeia Wassu Cocal em Rodas de Conversa promovidas pela companhia. Também aconteceram aulas abertas com a bailarina Vera Passos e o espaço ainda recebe, atualmente, dois coletivos teatrais em residência artística, além dos projetos permanentes e gratuitos do grupo: Sol-Te, oficina livre de teatro para crianças e adolescentes, e Iluminar, oficina criativa de cenografia, figurinos e iluminação, coordenada pelo diretor convidado Kleber Montanheiro.
Mais informações na página do Teatro do Incêndio nas redes sociais. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Ficha técnica
Texto e direção geral: Marcelo Marcus Fonseca
Figurinos: Gabriela Morato
Iluminação: Kleber Montanheiro
Direção musical e composições originais: Bisdré Santos e Marcelo Marcus Fonseca
Cenografia: Gabriela Morato e Marcelo Marcus Fonseca
Coreografias e preparação corporal: Gabriela Morato
Piso de cena: Jorge e Denis Produções Cenográficas
Coordenação: Jorge Ferreira Silva
Equipe técnica: Alicio Silva, Cleiton Willy, Deoclecio Alexandre, Vitor Caires e Murilo Manino
Criação e coordenação de adereços: Gabriela Morato
Assistência de figurinos e produção: Bianca Brandino
Confecção/adereços: Victor Castro, André Souza e jovens do projeto de Vivência Artística
Música ao vivo: Bisdré Santos e Vinibatucada Pinto
Música “Movimento dos Sem Chuva”: Cristóvão Gonçalves
Design gráfico: Gustavo Oliveira
Fotos: Giulia Martins
Assessoria de Imprensa: Verbena Comunicação
Produção e realização: Teatro do Incêndio
Elenco: Gabriela Morato, Elena Vago, Anderson Negreiro, Valcrez Siqueira, André Souza, Victor Castro e Marcelo Marcus Fonseca.
Jovens do projeto de Vivência Artística: Lia Benacon dos Santos, Bianca Brandino de Castro Assis, Lucas Galhardo Dantas, João Lucas dos Reis Gonçalves, Ellen da Costa Marins, Pedro Henrique Rocha Vieira, Hisadora Benevides de Oliveira, Thalía Melo Macedo, Julieta Guimarães, Antônio Carlos Soares Augusto, Mariana Cortez Lima Ribeiro, Raquel de Lacerda e Vinicius Santos Julião.
Espetáculo “A Gente Submersa”
Com: Cia Teatro do Incêndio
Estreia: 16 de setembro. Sábado, às 20h
Teatro do Incêndio
Rua Treze de Maio, 48 – Bela Vista/SP. Tel: (11) 2609 3730 / 2609 8561
Temporada: 16/9 a 10/12. Sábados (às 20h) e domingos (às 19h)
Duração: 120 min. Gênero: Tragicomédia musical. Classificação: 14 anos.
Ingressos: Pague quanto puder.
Capacidade: 95 lugares. Acessibilidade. Ar condicionado.