.Por Regis Mesquita.
A cena mais marcante da sétima temporada da série “Game of Thrones” foi o sexo entre uma das personagens e um eunuco.
O eunuco, um soldado que foi castrado ao ser treinado, fica frente a frente com a mulher que ele ama.
Ao confessar sua paixão, é correspondido com a amada tirando a própria roupa e se oferecendo para o ato sexual.
Ele fica inibido. Fica envergonhado. Ela tira a roupa dele, e ele permite.
Ela o aceita. Ele aceita superar este desafio. Os dois deitam e a cena (breve) o mostra fazendo sexo oral nela.
É uma cena bela e instrutiva.
Mostra uma das mais importantes funções do sexo: servir ao outro. O servir ao outro multiplica sua capacidade de ter prazer.
Ou seja, o tesão pode e deve ser complementado pela entrega, pela aceitação e pelo servir.
Na nossa cultura, o que acontece quando o homem “broxa”? A relação sexual termina. Fica o constrangimento, a vergonha e, muitas vezes, a raiva.
O homem não mantém o servir, não mantém o ato que pode ser muito prazeroso para os dois.
Esta é a verdade: homem de pinto mole também pode ter muito prazer no sexo.
A sua cura: servir, se entregar para o outro, se sentir aceito e superar a vergonha e eventuais conflitos neuróticos.
Ele deve servir para gerar um vínculo de paz, com aceitação e proteção para, aos poucos, reconstruir sua sexualidade.
Servir é uma das maiores fontes de prazer para o ser humano. Em todas as situações e em todos os momentos.
O servir é ir além de si mesmo e criar uma situação mais benevolente, mais acolhedora e com menos conflitos e menos orgulho.
O ser humano sente-se naturalmente bem em tais situações.
Servir ao parceiro permite descobertas e permite o incremento da autoestima.
No sexo: o uso de dedos, línguas, o cheiro, o roçar, o valorizar através do olhar, o toque na pele que desfaz as tensões do nervosismo.
Algumas pessoas dizem que desejo diminui com o tempo. A conquista perde o “mistério”…
Eu digo que a entrega é viciante. O servir que potencializa o sexo é viciante.
Se sentir aceito e valorizado é viciante.
Com o tempo, o corpo muda. Mas, aceitação e a certeza de que juntos podem gerar muito prazer é capaz de superar os novos desafios.
Sexo é costume. Sexo é construção conjunta.
O sexo não pode ser prisioneiro do desejo. Porque tudo o que é prisão acaba desestimulando, complicando e decaindo.
Ninguém precisa de desejo para ter sexo. O desejo é apenas um facilitador e potencializador.
Um pode estimular o outro. Um pode brincar e servir ao outro. Um pode aceitar sair de si e se entregar para o outro. Um pode amar o outro como ele é. Exatamente como ele é.
Amar suas imperfeições e não apesar das suas imperfeições.
Amar suas dificuldades e não apesar das suas dificuldades.
Amar o outro como ele é. Para que o amor e junto a excitação sexual (que é diferente do desejo) possam fluir e tomar conta do momento.
Sua mente é capaz de bloquear este fluir. Você pode ser seu maior sabotador, porque bloquear este fluir é tornar-se dependente do desejo.
Toda dependência torna a vida mais complicada. O que é mais complicado, desestimula.
Concluindo: para reconstruir, manter e potencializar sua sexualidade é importante aceitar e servir ao outro.
Aceitação permite amar o outro como ele é, valorizar o outro como ele é, servir ao outro da forma que o outro gosta.
Toda a biologia humana foi projetada para que esta sensação seja altamente prazerosa. E o melhor, dure durante todo o dia, semanas, meses…
Mesmo nos momentos em que não houver o ato sexual, esta memória corporal permite que o corpo se “lembre” do ato sexual, mantendo-o preparado e estimulado para o próximo ato.
A sexualidade é uma função orgânica que pode e é estimulada pela memória subconsciente. Sempre que esta memória é estimulada, o corpo também é.
O amor e a aceitação permanecem vibrando no interior da pessoa. O que vibra estimula; o que estimula, potencializa.
A natureza é algo que sempre nos surpreende. Aprender a amar o outro como ele é traz relaxamento, paz, paciência, ternura e estímulos sexuais (no caso dos vínculos sexualizados).
Esta foi a razão que fez com que Missandei (a mulher amada) “esquecesse” que seu amado não tinha pênis.
Em um vínculo sexualizado (que é diferente de mãe e filho, por exemplo) o amor e a aceitação do outro potencializam o corpo e o fluir da excitação.
Amar como o outro é. Isto traz muitas coisas boas para a pessoa.
Servir e se alegrar com a felicidade do outro. Isto também traz resultados fantásticos para a vida pessoal.
A excitação sexual é tremendamente potencializada pelo hábito, pelo costume, pela entrega, pelo servir, pelo fluir da energia de vida, pelo amor, pela ternura e, principalmente, pela aceitação. Este “ambiente” de aceitação e servir é o mais propício para superação de medos, inseguranças e neuroses relacionadas ao ato sexual.
Lembre-se: “Na busca pela sobrevivência, a colaboração é um ato inteligente que multiplica as boas oportunidades.” (1)
1 – Livro “A Espiritualidade no Dia a Dia”, pág 29. https://www.amazon.com.br/dp/B01LXTRN1C
Regis Mesquita é o autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas