A exposição OSSO, que está na última semana, é uma espécie de marco de um Brasil à deriva. E também um marco do protagonismo que o Instituto Tomie Ohtake começa a ocupar na arte contemporânea brasileira.
Ao lado da exposição sobre os abusos da justiça, há outra exposição fundamental. É uma mostra também inédita, sob a curadoria de Paulo Herkenhoff, e que destaca a produção e a trajetória de diversas mulheres que desafiaram convenções e limites de suas épocas, nos séculos XIX e XX no Brasil.
Mas na exposição OSSO – exposição-apelo ao amplo direito de defesa de Rafael Braga – que fica até o final do mês de julho, os artistas brasileiros expõem em expressões plásticas a violência da justiça brasileira contra as classes de menor poder aquisitivo. Rafael Braga é apenas a representação, uma síntese de uma velha história.
Segundo o próprio instituto, “as obras reunidas e os debates propostos pretendem iluminar o tema em destaque na sociedade brasileira: igualdade de direitos constitucionais básicos”. Isso no século 21.
Com a mostra, o Instituto Tomie Ohtake rompeu as correntes corporativas do círculo mais abastado da sociedade e permitiu que artistas ressignificassem o país. Uma luz contra a barbárie promovida por juízes e todo o aparelho estatal, que é comumente silenciada pela grande mídia.
Cildo Meireles, Rosana Paulino, Jaime Lauriano, Paulo Nazareth, Dalton Paula, Iran do Espírito Santo, Bené Fonteles, Moisés Patrício, Nuno Ramos e muitos outros participam do evento.
Nuno Ramos é implacável em uma obra que permite mil leituras. Mas pode fazer lembrar os procuradores que citaram ‘Marx e Hegel’ em uma ação contra o ex-presidente Lula, todo analfabetismo político presente em manifestações de corruptos contra a corrupção, toda a ignorância que levou ao ódio recente. Ramos expõe um livro baleado, um livro que levou um tiro, simples, direto. Um livro que absorveu um projetil. Um livro morto, talvez. Como não pensar na ‘escola sem partido’, nos fundamentalistas evangélicos?
Rosana Paulino mostra na Permanência das Estruturas os ícones e a arquitetura do racismo, a engrenagem que faz do discuso técnico (seja sobre a eugenia no passado, seja sobre o juridiquês atual) uma máscara da opressão social e racial.
Jaime Lauriano coloca pedras portuguesas pretas e brancas, que podem ser reordenadas. Em algumas, as datas que continuam vivas como nunca: 1.500 ou 1.888.
Esses e outros artistas abalroam o Poder Judiciário brasileiro, não um poder do passado, algo no museu da história, mas o presente vivo e pulsante. Ali, no centro financeiro de São Paulo, no centro do poder econômico, a arte expondo o Poder Judiciário atual em suas injustiças diárias a serviço das mais covardes violências. (Glauco Cortez)