Abjeta porque evidencia a condenação da democracia por meio da culpabilidade inerente ao sujeito político.
É abjeta porque, ao mesmo tempo, prevê inocência em situação mais problemática de indivíduos sem atuação político-partidária.
A ligação entre as sentenças é um ataque frontal ao sistema político-partidário e à frágil democracia brasileira.
No caso das esposas do políticos Cunha e Cabral há indícios e até provas materiais da participação ou, pelo menos, do benefício dessas mulheres em relação ao dinheiro proveniente da corrupção. Ou seja, está comprovado que elas se beneficiaram da corrupção dos maridos (maridos políticos).
Os maridos políticos foram condenados e estão presos. As mulheres (não políticas) foram absolvidas por Sérgio Moro. Estão livres.
O processo exatamente inverso acontece com o caso do apartamento Triplex do Guarujá. Contra Lula, o político, não há uma prova se quer, não há recursos que passaram por conta de Lula e foram usados. Há, ao contrário, farta documentação e testemunhas dizendo o contrário.
Segundo a sentença, ele foi condenado por benefícios (??) advindos de relações familiares, de forma semelhante aos benefícios obtidos por Cláudia Cruz e Adriana Ancelmo. Por exemplo, o apartamento seria de Lula porque esposa, Marisa Letícia, já falecida, comprou uma cota da Bancoop.
A ligação entre as três sentenças mostra uma interpretação jurídica diferente entre o político e o não-político. Se é político, há culpa por convicção. Exclui-se aqui da análise a posição político partidária de Sérgio Moro, fartamente desvelada.
É por isso que procuradores afirmam que “tal partido é uma organização criminosa”. Essa é uma afirmação aceitável na boca de um político, mas abjeta na boca de integrantes do sistema judiciário. A Lava Jato expõe a ignorância da política por parte de setores do judiciário.
O sistema político e a democracia partidária estão condenados, já os beneficiários privados livres.
Isso tem um nome. A Espanha, a Itália e a Alemanha conhecem bem (Susiana Drapeau)