Por Julicristie Oliveira
Cheguei em Salvador em uma sexta-feira. No aeroporto, encontrei umas canoinhas de tapioca que eram feitas apenas de polvilho, sal e água. Percebi que minha incursão pelos sabores baianos e veganos seria mais fácil do que previ.
Na noite da sexta-feira, fui jantar no único restaurante vegano da cidade que consegui identificar pelas minhas pesquisas na internet, o Rango Vegan, situado na Rua do Passo, 62. Felizmente, estava hospedada muito perto do estabelecimento que foi praticamente a minha segunda casa em Salvador. Escondido ao fundo de um casarão histórico, o Rango Vegan é aconchegante e agradável. No cardápio, havia várias opções de lanches, doces, mas também versões veganas de quitutes mais tradicionais, como o abará – espécie de bolinho de feijão fradinho, parecido com o acarajé, só que em vez de frito no dendê, é cozido no vapor envolto em folha de bananeira. Para minha infelicidade, o restaurante não estava servindo abará no dia e escolhi um sanduíche como opção de jantar. Estava tudo bem feito e delicioso. O Rango Vegan merece ser conhecido e apreciado.
No sábado cedo, fui ao Museu da Gastronomia Baiana para registrar as peças, os escritos, as composições, os textos e para explorar os pratos típicos do restaurante. Por sorte, consegui encontrar opções veganas, como mini acarajé sem recheio, arroz e feijão de coco. O feijão era batido com coco, formando uma espécie de creme, e era adocicado. Comer feijão temperado com açúcar foi um desafio para o meu paladar. A princípio, achei muito estranho, mas acabei me rendendo e apreciando a peculiaridade. As pessoas que trabalham no museu eram muito simpáticas e, como a maior parte dos pratos era elaborada com algum ingrediente de origem animal, o chefe da cozinha preparou para mim um prato com salada de folhas, legumes, palmito e banana da terra, puxados no dendê, é claro.
Para sobremesa, o restaurante oferece uma mesa com grande variedade de doces de frutas, sem laticínios ou ovos. Fiz um prato nada singelo com um pouquinho de cada um: cocada branca, preta, com maracujá, doce de mamão, de goiaba, de banana e pedi um cafezinho. Sorri e apreciei. Saí de lá mais feliz do que esperei.
Passei o sábado alegre e circulando pelos museus do Pelourinho. A Casa do Benin, situada na Rua das Portas do Carmo, 17, reformada pela arquiteta Lina Bo Bardi, também acopla o salão de exposição a um restaurante. Apreciei a exposição vagarosamente e depois escolhi uma boa mesa no jardim do restaurante para tomar um suco. Foi difícil decidir entre umbu e seriguela, mas como não conhecia a primeira fruta, arrisquei. Achei maravilhoso, o suco de umbu tem um gosto verde que ginga na boca aos goles. Comentei com as simpáticas pessoas que me atenderam que não conhecia a fruta. Cordialmente, me trouxeram um potinho com umbus e seriguelas. Observei, apertei, cheirei, mordi, mastiguei, senti o gosto e engoli cada uma das delicadezas. Sorri e experimentei. Saí de lá ainda mais alegre do que entrei.
No domingo, fui me aventurar pela Praia do Forte com uma amiga que o Pelourinho me deu, a Naiara. Uma história risonha, que não me canso de relembrar e que merece um texto à parte.
Pois é, Salvador tem sabor de canoinhas de tapioca, de dendê, de acarajé, de feijão de coco, de doces de frutas, de suco de umbu e de seriguela. Sorri e agradeci. Saí de lá mais baiana do que cheguei.
Julicristie M. Oliveira tem doutorado em Nutrição em Saúde Pública, é professora do Curso de Nutrição da FCA/Unicamp e atua na área de Educação e Segurança Alimentar e Nutricional.