Soffredini escreveu mais de 20 peças, muitas premiadas e remontadas. Escreveu também roteiros para cinema (“Marvada carne”1985) e televisão (“Hoje é dia de Maria”). Porém, sua obra dramatúrgica ainda não havia sido organizada como livro.
Trata-se, portanto, da primeira edição organizada desse autor que poderá agora chegar ao público: são quatro peças – cada livro contendo cronologia da vida do autor, prefácio e posfácio analítico, uma breve contextualização sobre a produção daquele peça, além de fotos das montagens.
Ligia Balista, que organiza a obra, é autora de pesquisa de Doutorado feita na USP, Universidade de São Paulo, onde se concentra em algumas peças do autor, particularmente em sua temática caipira (em especial “Na carrêra do divino”, de 1979 – para o qual ela também escreveu o posfácio), mas parte do trabalho foi organizar, junto à filha do dramaturgo, Renata Soffredini, a coleção que apresenta ao público agora, em forma de livro, quatro peças consideradas das mais importantes de sua produção.
Um prefácio é de Vilma Arês, professora aposentada da Unicamp, que orientou a primeira tese defendida sobre Soffredini, outro é de Alexandre Mate, da Unesp, e os outros dois dos professores da USP Maria Sílvia Betti e João Roberto Faria.
Sobre as quatro peças contidas no livro, em 1979, o Grupo Mambembe montou Vem buscar-me que ainda sou teu, com direção de Yacov Hilel. Com resultados elogiadíssimos ao aliar o melodrama à comédia, Soffredini reuniu depoimentos de famílias tradicionais de circo para construir neste texto um metateatro. Aproximou-se, assim, das origens populares do teatro brasileiro, ao retratar a vida de uma companhia de circo-teatro falida, que tem no centro a mãe/empresária que tenta modernizar os espetáculos que o grupo encena, mas não consegue.
Na carrêra do Divino foi escrito em 1979 a pedido do grupo Pessoal do Victor, que tinha interesse em montar uma peça sobre o universo do caipira paulista com um tratamento diferenciado do paradigma negativo do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e a partir de uma pesquisa sobre o ambiente da narrativa.
Pássaro do poente surgiu após um acordo especial com Paulo Yutaka, do grupo Ponkã. Soffredini teria chamado Yutaka para dar algumas aulas aos atores do ESTEP; o pagamento se daria através de um texto que o dramaturgo escreveria a partir de uma lenda japonesa que o amigo havia lhe apresentado. Nessa espécie de permuta entre o grupo Ponkã e o núcleo ESTEP, nasceu a peça.
Já De onde vem o verão parte de Marlene, uma personagem densa, emocionalmente vulnerável. Sua percepção do mundo é marcada por uma subjetividade enfraquecida pela insegurança. E o que vemos/lemos tanto pode ter acontecido com ela como pode ser obra de sua imaginação fértil de moça solteira e solitária, que vê da janela a vida se esvair enquanto passa os dias trabalhando e cuidando da mãe doente.
O projeto resulta de um edital de publicação de livros (Proac) e de parceria com a editoria Giostri. Além do lançamento em Campinas, o livro já foi lançado em SP, na Casa das Rosas, e haverá também um lançamento em Santos, cidade do autor, no dia 31 de março. (Carta Campinas com informações de divulgação)