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Ignorantes

Por Luís Fernando Praga

Antes de mais nada, reitero que sou um grande ignorante. Minha ignorância sempre me impedirá de me expressar com perfeição e de fazer qualquer coisa com perfeição, mas busco, profundamente, ser menos ignorante a cada segundo que me resta na vida.

Andei pensando a globalização: todos são cidadãos do mundo. A informação é disponível em tempo real em todo canto. Quanto mais gente bem informada, mais o mundo se conduz para se tornar um lugar melhor e mais evoluído. Surgem líderes humanitários e transformadores, de influência global, socialmente progressistas e destoantes do sistema, como José Mujica, Lula, Papa Francisco, Justin Trudeau entre outros, capazes de enxergar os problemas do mundo pelo enfoque das prioridades humanas.

Mas o poder vigente no globo é capitalista e exploratório. O dinheiro compra tudo, até a vida. A maior potência é um império que cultiva um povo conservador, preso a preconceitos e dogmas religiosos. Esta potência prospera financeiramente graças às guerras que alimentam a indústria bélica, à exploração da mão de obra mais barata que encontrar, à cultura do consumismo e à manipulação da informação.

A informação em tempo real abre os olhos do povo e faz pensar quanto à não necessidade de se viver segundo as regras capitalistas, destinando todo o seu tempo de vida e sua força de trabalho ao benefício de magnatas. Isto ameaça o poder vigente, que tem dinheiro e reage comprando os grandes disseminadores da informação.

A informação imparcial passa a chegar a menos gente, enquanto a informação turbinada pelo interesse capitalista, tendenciosa e manipulada, chega a muitos, através da grande mídia que se vende. Muitos passam a temer e lutar contra um inimigo inventado por esta mídia prostituída, que os conclama às ruas para combater o “mal”. O medo espalhado gera reações enfurecidas e a mídia se encarrega de agregar os conservadores (aqueles avessos às transformações sociais), gerando a sensação de que este é o pensamento predominante e correto, então a extrema direita ganha voz e força mundo afora.

No Brasil, a informação mais fácil de se ouvir é a de que a presidente Dilma não presta e de que todos os que não apoiam sua queda não prestam, porque são comunistas. No Brasil e no mundo controlado pelo dinheiro, a informação que se tem a respeito do comunismo é enganosa e a pior possível, o que cria uma legião de ignorantes, covardes, agressivos e odiosos.

Todos aqueles que se esforçam em educar para a libertação e autonomia do indivíduo, em fazer pensar, em estimular o questionamento e em transformar a sociedade naquilo que ela jamais será enquanto estiver atrelada às convenções atuais são rotulados de comunistas pela mídia, pelos políticos e “pensadores” da direita. Eles sabem que o povo, cultivado ignorante pelo sistema, não sabe o que é comunismo, mas é disso que ele sente pavor.

Dilma cai, tudo dentro do script e quem assume são prestadores de serviço para os Estados Unidos.

Rapidamente o novo governo faz reformas a fim de restringir o acesso à boa educação, à boa informação e aos direitos básicos do povo, no intuito de criar mais escravos para o sistema. Gente que não pode se dar ao luxo de raciocinar historicamente ou pensar com liberdade, pois precisa trabalhar sem parar enquanto sobrevive.

Tais reformas beneficiam as grandes corporações capitalistas, as maiores devedoras da previdência social e prejudicam o trabalhador até a última gota de sangue.

Aumenta o contingente de gente trabalhando até a morte e sem questionar, para alimentar a fortuna dos grandes senhores capitalistas.

Essa gente explorada e cada vez menos bem informada segue o ciclo de culpar os comunistas por seu sofrimento, como alguns culpam o satanás.

Culpam o que não se pode ver e personificam a culpa naqueles que não enxergam o mundo como eles. Odeiam os comunistas, os socialistas, os rebeldes, os artistas, os anarquistas, os poetas e as pessoas independentes que pensam à frente.

A massa de manobra, desviada do foco, assiste à novela enquanto aqueles a quem ela apoiou votam contra seus direitos.

A massa de manobra, desviada do foco, tem medo do capeta e espera que Deus resolva seus problemas, enquanto o sistema judiciário brasileiro, movido a dinheiro, logo, no mundo globalizado e capitalista, funcionário de quem tem mais dinheiro (os USA), atua descaradamente em favor de um golpe de estado que criará muita mão de obra barata pro patrão.

A massa de manobra iludida, composta por miseráveis, remediados e os mais remediados um pouco, os que se enxergam ricos e poderosos por verem alguém abaixo deles, aplaudem a um juiz autoritário, parcial e criminoso que caça quem deseja libertar e instruir o povo e prende blogueiros que informam a verdade.

A massa de manobra, desviada do foco, teme os movimentos de libertação feminina, odeia os que vivem à margem das convenções e assiste futebol, passiva, enquanto a justiça que protege ricos e prende pobres reintegra à sociedade o jogador de futebol que matou uma mulher, a mãe de seu próprio filho, esquartejou e jogou os pedaços de sua carne para os cachorros comerem.

A massa de manobra ignorante, que odeia o diabo e os comunistas e pede a Deus para que livre seu caminho desse tipo de ameaça, chega em casa exausta do trabalho, assiste ao jornal nacional que denigre movimentos populares, menospreza programas sociais e mostra como é belo ser escravo até morrer.

A massa de manipulados, quando não é acionada, cala-se diante de um sistema político de ética própria e valores inversos, que a usa como e quando bem desejar. Esta massa omite-se perante um sistema prisional colapsado, anula-se diante de um sistema de justiça que tem justiça só no nome, em que os poucos homens bons, que não deixaram seus princípios apodrecerem no dinheiro, são apenas bons enxugadores de gelo.

A massa de manobra ignorante alimenta a fortuna da rede globo, de seus grandes anunciantes e dos bancos, seus verdadeiros algozes, mas sente ódio daqueles que desejam vê-la pensante.

A massa de manobra aprisionada ao preconceito, ao medo e à desinformação ainda é a carta na manga do capitalismo exploratório e de quem acredita que pode comprar o mundo e sua gente com dinheiro. Ela é a garantia de que nunca haverá um povo unido no combate aos verdadeiros desmandos contra a humanidade. Ela é um exército de fanáticos pronto para lutar sangrentamente contra sua própria evolução, sempre que for convocada pela televisão.

Ela, porém, será assim apenas enquanto sentir mais medo do conhecimento que da ignorância.

Eu desejo ver a massa de manobra ignorante se arriscando a pensar e sonho em como será o mundo quando esta magnífica transformação ocorrer.

Quando a massa de manobra ignorante for uma massa pensante e ativa, lutadora por seus direitos e não pelos privilégios de quem já os tem aos montes, ciente de que seu verdadeiro inimigo é a ignorância, ela não será mais submissa a nenhum senhor, não terá receio de deixar a escravidão e entenderá que a força de trabalho de um povo unido pela vida não carece de gerar dinheiro para alimentar vaidades mesquinhas e corrupção.

A vida será respeitada, a justiça será clara e justa para todos, a cooperação superará a competição, o conhecimento será uma busca incessante; e que venham novas ignorâncias para superarmos, porque estas já estão velhas e cansativas. 

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