Por Luís Fernando Praga
Havia tanta paz, sem grade ou muro
E a vida era o presente a ser vivido.
Não havia mais medo do futuro
E todo amor já era permitido.
Às cinco horas, a realidade…
Por ele ela era seria diferente.
Vai à labuta, acorda a claridade
Acordado do sonho de ser gente.
Há olhos que vigiam seus irmãos,
Há culpa, maldições e há pecados.
A ganância faz calo em suas mãos
E numa legião de escravizados.
Mais um dia na vida sem paisagens.
Doze horas passando numa esteira,
Os gemidos de dor das engrenagens,
Inalando fedor, ódio e poeira.
Já é bem noite; enfim, sem uniforme,
A cama chama e rouba sua essência.
Seu obeso patrão também não dorme,
De um câncer que corrói a consciência.
A claridade arromba um devaneio
E ele olha as cinco com um ar tristonho
De quem vai, mas não sabe a que veio
Nem sabe mais sonhar aquele sonho.