Por Conceição Lemes
Em entrevista coletiva após a reunião, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, disse: “não há apoio a nenhum dos candidatos inscritos ou que venham a se inscrever eventualmente. Então, o que há é um conjunto de condições para participar da mesa nas duas casas. A primeira condição é o respeito à Constituição (SIC)”.
É flagrante o abismo crescente entre a direção e a base do PT.
Trata-se de mais um lance da crônica “deficiência auditiva” da direção em ouvir os milhares de militantes que amassam barro e gastam sola de sapato.
Ao dizer que “não há apoio a nenhum dos candidatos”, Rui Falcão parece menosprezar a inteligência alheia.
A decisão abre a porteira e não o contrário para a composição com os golpistas.
Ao não proibir, ela autoriza a composição. Logo, libera o voto. A “cereja do bolo” é a primeira condição para o apoio: “Respeito à Constituição”. Piada pronta.
Será que acreditam em história da carochinha, se autoenganam ou acham que enganam a militância?
A marca registrada dos golpistas Rodrigo Maia e Eunício Oliveira é o desrespeito à Constituição.
O golpe de 2016 foi dado para destruir os direitos e avanços da Constituição de 1988.
Considerando que, na sequência, serão votadas as reformas trabalhista e da previdência, que aniquilam direitos dos trabalhadores brasileiros, que raios de respeito à Constituição é este citado na decisão do PT?
Ontem mesmo, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e o deputado Rogério Correia (PT-MG) postaram na rede social vídeos, condenando a decisão e convocando a militância para pressionar os parlamentares a não apoiarem candidatos golpistas na Câmara e no Senado.
Na mesma linha, posiciona-se Bruno Elias, secretário nacional de movimentos populares do PT:
O PT não deve apoiar golpistas no Congresso Nacional
O centro da tática do PT deve ser derrotar o golpe, defender os direitos e lutar por diretas já!
São estes objetivos que deveriam orientar a posição das bancadas petistas na eleição das mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Raimundo Bonfim, na condição de filiado ao PT e membro das coordenações da Central de Movimentos Populares e Frente Brasil Popular, divulgou esta carta:
Venho, em caráter pessoal, por meio desta, expressar minha preocupação com os desdobramentos das eleições para a presidência da Câmara e do Senado.
Hoje, a maoria do diretório nacional do PT aprovou resolução que estabelece a possibilidade de apoiar para as presidências da Câmara e Senado figuras que lideraram com destaque o impeachment da presidente Dilma.
Não bastasse o golpe que desferiram na democracia ao afastarem a presidenta Dilma sem ter cometido crime de responsabilidade, tais candidatos estão empenhados em uma cruzada conservadora, retirando direitos sociais e atacando conquistas históricas da classe trabalhadora, como a previdência social e a CLT.
Carlos Hetzel, do PT de Brasília, defende um basta:
Acho que já chega de nos afastarmos da militância, de nossos companheiros fiéis e de luta.
A realidade atual no congresso é de exceção e anormalidade. Esta é minha opinião e de diversos grupos de petistas que participo e represento. (Texto integral no Vi o Mundo)