Gotas de chuva, raios, revoadas, trovões que atravessaram os séculos em forma de música estão na partitura da Sinfonia “Pastoral”, escrita em 1808.
A obra tem cinco movimentos, cada um deles com um título que sugere uma cena da vida no campo. Segundo a pesquisadora Lenita Nogueira, o primeiro, Despertar de sentimentos alegres diante da chegada ao campo, traz uma alegre celebração campestre. O segundo, Cena à beira de um regato, utiliza os instrumentos de cordas para descrever o correr de um riacho e as madeiras, para o canto dos pássaros. O terceiro é a Dança campestre, um scherzo que apresenta uma dança camponesa que é interrompida por uma tempestade, configurando o quarto movimento, A tempestade.
“A tempestade passa rapidamente e irrompe a canção dos pastores, felizes com a chuva que traz fertilidade à terra, em uma melodia que incorpora temas dos dois primeiros movimentos”, conclui.
Outra obra do repertório, “Saudades do Brasil”, foi composta durante a permanência de Darius Milhaud no Brasil, entre 1917 e 1918, como adido cultural da Embaixada da França, cujo titular era o escritor Paul Claudel (1868-1955). No Rio de Janeiro entrou em contato com manifestações da cultura popular que o deixaram bastante impressionado, a ponto de lamentar o peso da influência francesa no Brasil e a não inclusão do folclore na composição musical brasileira da época.
“Quando chegou ao Brasil”, conta Lenita Nogueira, “Milhaud estava ávido por novas fontes musicais e materiais estranhos ao repertório europeu saturado e em crise. Ciceroneado por músicos como Villa-Lobos e Luciano Gallet, subiu os morros cariocas e frequentou rodas de chorões, ouviu sambas, maxixes e choros, gêneros que iria incorporar em algumas de suas composições”.
“Saudades do Brasil”, composta em 1921, é formada por 12 peças que fazem referência a locais no Rio de Janeiro. São eles: Sorocaba, Botafogo, Leme, Copacabana, Ipanema, Gávea, Corcovado, Tijuca, Sumaré, Paineiras, Laranjeiras e Paissandu.
A experiência no Brasil influenciou sua produção posterior na França, onde participou do chamado Grupo dos Seis, que, inspirado musicalmente por Eric Satie (1866-1925) e intelectualmente pelo pensamento revolucionário de Jean Cocteau (1889-1963), pregava uma estética que explorasse o humor e a maneira popular.
Nos concertos, a Sinfônica interpreta ainda a abertura da ópera cômica “La Dame blance”, de François-Adrien Boieldieu, o mais destacado compositor de óperas francês durante a primeira metade do século 19. O autor viveu algum tempo na Rússia, onde foi diretor da Ópera em São Petersburgo, e se estabeleceu em Paris por volta de 1811. Ali atuou em defesa da ópera cômica francesa contra a popularidade de sua concorrente italiana, representada por Gioacchino Rossini.
Se sua obra operística não sobreviveu até os dias atuais, as aberturas das óperas Le calife de Bagdad e La dame blanche permaneceram como peças de concerto autônomas. Esta última é uma ópera cômica com libreto de Eugene Scribe, baseada em cinco novelas do escritor escocês Sir Walter Scott. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Programa
FRANÇOIS-ADRIEN BOIELDIEU (1775 -1834)
“La Dame blanche”, abertura
DARIUS MILHAUD (1892-1974)
“Saudades do Brasil” Op. 67B
Ludwig van Beethoven (1770-1827)
Sinfonia N° 6 em Fá Maior, Op. 68, “Pastoral”
Orquestra Sinfônica de Campinas
Regente: Victor Hugo Toro
Quando: sábado (12 de novembro), 20h; domingo (11 de novembro), 11h
Local: Teatro Castro Mendes (Praça Correa de Lemos, s/n. Vila Industrial. Campinas). Telefone (19) 3272.9359.
Ingressos: R$30,00 (inteira), R$ 15,00 (estudantes, aposentados), R$ 10,00 (professores das escolas públicas e privadas de Campinas e das cidades da Região Metropolitana, pessoas com mobilidade reduzida e portadores de deficiências); R$ 5,00 (estudantes das redes municipal e estadual).