Por Regis Mesquita
Preste atenção: a gente começa a perceber que a guerra psicológica está dando frutos quando algumas pessoas começam a reproduzi-la por livre e espontânea vontade.
É o caso da advogada Janaína Paschoal, que escreveu mais uma bobagem: “Com uma base militar na Venezuela, Putin estará a um passo de atacar o Brasil. Estão rindo? Pois eu estou falando sério.”
Sim, ela quer salvar o Brasil da invasão Russa. Primeiro passo desta guerra psicológica: crie um inimigo, pratique uma campanha de negatividades. Impregne a mente das pessoas notícias e informações reais ou falsas, mas negativas.
Quem vai salvar o Brasil? Quem vai dizer para a Rússia: aqui você não invade? Será que é o povo brasileiro ou será o “protetor” EUA criando bases militares no Brasil?
A guerra psicológica é uma parte de um jogo de interesse maior. Veja algumas peças deste quebra-cabeça.
Guerra do petróleo
Entre os países mais atingidos pela queda do preço do petróleo estão: Venezuela, Rússia, Irã, Brasil (Petrobras).
A Arábia Saudita se recusou a diminuir a produção e o preço despencou. A mesma Arábia Saudita que financia os grupos terroristas mais radicais. A mesma Arábia Saudita que possui 8 trilhões de dólares investidos nos EUA. O que a torna sócia de boa parte da elite financeira dos EUA (1).
No jogo das sutilezas políticas, a Arábia Saudita “deve um favor”. Ela colabora na promoção de outros inimigos políticos e a ação terrorista da Arábia Saudita é colocada em terceiro plano.
Com o petróleo barato, ela perde um pouco de dinheiro, mas consegue desviar a atenção de si mesma. (Observe o noticiário da Rede Globo, por exemplo: este assunto é tabu por lá).
Guerra da Síria
Os países do Golfo Pérsico são os grandes financiadores do Estado Islâmico (Daesh). Sem dinheiro, o Daesh perde o poder. Na guerra psicológica, esta parte da verdade tem que ser colocada em segundo plano. Afinal, guerras são sempre bem vindas por serem grandes fontes de negócios.
Por exemplo, o desenvolvimento tecnológico do EUA é muito dependente da máquina de guerra.
Na Síria existe outro fator que é pouco divulgado: os voluntários das repúblicas russas e das ex-repúblicas soviéticas. Segundo especialistas, cinco mil europeus estão na Síria/Iraque lutando ao lado do Estado Islâmico. O total de franceses seria de aproximadamente 1.400. No caso das repúblicas russas mais as ex-repúblicas soviéticas (Azerbaijão, Kazaquistão, etc) o total de voluntários pode chegar a mais de 20 mil.
Desta forma, a Rússia viu na guerra da Síria uma extensão do seu problema interno com grupos religiosos e/ou separatistas. Viu também uma grande arena de testes de novos armamentos e treinamento militar. Serve também para dar guarita ideológica a grupos nacionalistas querem ver uma “Rússia Grande”.
Nacionalistas versus financistas
Um site russo publica: É perigoso para a saúde dos marinheiros americanos se aproximarem do território russo
O que entender desta notícia? Provocação de todo lado. Os americanos estando longe de casa, dispostos a mostrar poder. Russos respondendo belicosamente.
Por traz desta escalada de agressões está dinheiro, poder e vaidade. A Rússia é o inimigo da vez. Pois ela atrapalha os planos dos EUA na Ucrânia, na Síria e em outros lugares do planeta. Ela desafia o poderio militar americano. E, como você sabe, os EUA não conseguem ficar sem uma guerra para lutar.
Sem guerra, a máquina bélica americana de centenas de bilhões de dólares por ano fica inútil. A economia sofrerá.
Um grupo denuncia: o custo real das guerras do Afeganistão e do Iraque foi de 3 TRILHÕES DE DÓLARES. (2) Este dinheiro irrigou a economia americana por muitos anos; hoje é dívida. Os maiores beneficiários foram as grandes corporações. Estas mesmas corporações que financiam a guerra psicológica.
O costume de ter opinião sobre tudo (julgar)
Se não você não conhece muito bem um assunto evite ter opinião sobre ele.
O hábito de ter opinião sobre tudo te leva a julgamentos com muito pouco conhecimento de causa. Sua chance de ser injusta ou ineficiente é muito grande.
E, o pior, ao julgar sem conhecimento de causa você tem que usar as informações que outras pessoas ou empresas te fornecem. Quase sempre serão informações viciadas, incompletas ou relevantes.
Você passa a repetir os argumentos que estas pessoas e empresas colocam em evidência. E despreza o que eles escondem.
Assuma que você sabe pouco sobre a realidade. Aceite esta verdade e evite ter opinião/julgar.
Antes, procure informações complementares, estude o problema e tenha paciência para refletir sobre o assunto.
Lembre-se: ao julgar sem conhecimento, a pessoa usa os argumentos que são divulgados pelas outras pessoas. Copia. Repete (3).
Concluindo
A advogada Janaína Paschoal não é uma simples boba. Ela é uma pessoa que faz parte (consciente ou não) desta grande cadeia de transmissão de informações que visa legitimar posturas ideológicas e gastos econômicos contra os “inimigos”.
Se a Rússia pode invadir o Brasil, quem são seus aliados internos? Quem vai combatê-los? Quanto de dinheiro o Brasil vai gastar para enfrentar esta ameaça? A quem o Brasil vai se aliar? Qual será o preço o Brasil vai aceitar pagar para ter esta “proteção”?
A guerra psicológica visa criar inimigos para serem combatidos e desculpas para desviar atenção das pessoas de outros problemas. Pessoas, como esta advogada, são parte minúscula deste jogo de interesses muito maior.
Eles querem poder, dinheiro e vaidade. Nós queremos paz, saúde e educação. Eles querem mais gastos militares, nós queremos menos gastos militares.
Lembre-se: para ser livre tenha paz interior e o desejo de conhecer mais profundamente aquilo te motivar a ter opinião.
(1) Recomendo o documentário “Fahrenheit 11 de setembro” do cineasta Michael Moore.
Regis Mesquita é o autor do site Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas