“As pesquisas de opinião são parte do jogo. Muitas vezes exprimem o senso comum que a mídia ajuda a criar”, diz ainda o sociólogo. Para ele, é compreensível que os dados do instituto mostrem um cenário menos negativo a Dilma, mesmo que ela seja objeto de cobertura hostil da chamada grande imprensa.
A parcela dos que não apoiam o processo de impeachment, por sua vez, cresceu de 28% para 34%. A comparação entre os entrevistados que aprovam Temer ficou estável nos últimos 30 dias. Menos de um quinto (19%) manifestou aprovação ao interino, enquanto o número dos que aprovam Dilma subiu cinco pontos e chegou a 25%.
A queda do número de brasileiros que, segundo a pesquisa da Ipsos, não apoiam o processo impeachment pode se relacionar com a própria agenda do governo interino e a percepção da população sobre isso, avalia Grzybowski. “A agenda de Temer é muito ruim e não atende aos anseios das pessoas. Por exemplo, os anseios sobre corrupção. Foi a mídia que motivou o senso comum burro de que o problema estava unicamente na corrupção. Mas ele não consegue se diferenciar. E a população vê que o governo está comprometido até as orelhas na corrupção”, diz. “De repente o cidadão entende que não tem e não vai ter resposta.”
Os dados do Instituto Ipsos desmentem o jornal Folha de S.Paulo, que publicou resultado parcial do Datafolha, segundo o qual 50% dos entrevistados gostariam que Michel Temer ficasse na presidência até 2018. A pesquisa foi repercutida no Fantástico, da Rede Globo, no domingo 17, com grande destaque, e foi tema da ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, no último domingo (24) – que comprou a indignação dos leitores contra o jornal da família Frias.
De acordo com a pesquisa da Ipsos, a permanência do presidente interino Michel Temer é considerada a melhor alternativa para o Brasil por apenas 16% dos entrevistados. A maioria da população (52%) quer novas eleições em outubro deste ano. Para 20% dos entrevistados, a melhor opção é a volta de Dilma e o cumprimento de seu mandato até 2018, enquanto 12% não souberam ou não quiseram responder.
Os sites Intercept, dos Estados Unidos, e o brasileiro Tijolaço denunciaram a “farsa” da Folha. Segundo a ombudsman do diário, a semana passada “foi amarga para o Datafolha e para a Folha”. Segundo ela, 62% das mensagens recebidas dos leitores desde quarta-feira (20) “foram críticas e acusações ao jornal”. “Variavam de fraude jornalística e manipulação de resultados a pura e simples má-fé, passando por sonegação de informação e interpretação tendenciosa”.
Paula escreveu que “a questão central está na acusação de o jornal ter omitido, deliberadamente, que a maioria dos entrevistados (62%) pelo Datafolha se disseram favoráveis a novas eleições presidenciais, em cenário provocado pela renúncia de Dilma Rousseff e Michel Temer”.
Enquanto, ao divulgar o estudo de seu instituto, a Folha informou que apenas 3% queriam novas eleições, o Ipsos mostra um dado mais de 17 vezes maior, ao captar que, na verdade, são 52% os brasileiros que desejam novo pleito.
Segundo a pesquisa Ipsos, a gestão do presidente interino é considerada ruim ou péssima por 48% da população. Ela tem 7% de ótimo e bom e 29% o consideram regular. Temer tem 68% de rejeição, contra os 19% de aprovação. Dilma é desaprovada por 71%, ante os 25% que a aprovam.
Para Danilo Cersosimo, diretor de Ipsos, “ainda que a aprovação de Dilma seja maior que a de Temer neste momento, vale lembrar que ambos estão muito mal avaliados”.
Segundo ele, ambos têm índices de desaprovação na casa dos 70%. “Isso se dá pela descrença generalizada da opinião pública em relação aos políticos e aos partidos, conforme mostram nossas pesquisas. Fazendo uma interpretação desses dados, é possível afirmar que há uma desilusão latente junto à política em si.”
Sobre a “seletividade” da mídia contra o governo Dilma, fato reconhecido por setores importantes da imprensa internacional, Cersosimo afirma que “não comentamos pesquisas que não são realizadas pela Ipsos”. (Eduardo Maretti – RBA)