O primeiro mês do governo Temer trouxe mais instabilidade, concentrou renda e aprofundou a crise que atinge mais as micro e pequenas empresas. As delações do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, deixaram explícito a trama do golpe para que as investigações da Lava Jato fossem paralisadas.
Nesse contexto, o golpe só serviu realmente a grandes empresas que podem agora ter contratos com o novo governo Temer. Para a grande maioria de micro e pequenos empresários, o golpe foi um desastre, além da ruptura e aprofundamento da crise na própria Democracia do Brasil.
É urgente um deslocamento das micro e pequenas empresas dos interesses da Fiesp comandada por Paulo Skaf. É totalmente distinto os interesses de micro e pequenos empresários dos grandes empresários que vivem de compras governamentais e em uma associação umbilical com os governos.
Em artigo no Brasil Debate, Clemente Ganz Lúcio, sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, relata a dinâmica do emprego na cidade de São Paulo e mostra que as micro e pequenas empresas são responsáveis pela maior parte das ocupações.
Segundo a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), em 2015, na cidade de São Paulo quase 60% das ocupações estavam nas micro e pequenas empresas, que eram responsáveis por 45% do emprego formal na cidade. Nesse período, as empresas com mais de cinco trabalhadores demitiram mais de 210 mil pessoas, e aquelas com até quatro vínculos de emprego criaram mais de 74 mil novos postos de trabalho na cidade de São Paulo.
‘As políticas públicas precisam voltar-se para a geração de emprego e renda. Para isso, devem estruturar processos que incentivem e desenvolvam ambientes favoráveis aos negócios das micro e pequenas empresas, poderosas fontes de criação de emprego e renda. Esses empreendimentos podem estar mais bem distribuídos pelas diferentes regiões, aproximando os empregos dos locais de moradia dos trabalhadores, das creches e escolas dos filhos, entre tantos outros fatores positivos’, anota.
Daí a necessidade de se deslocar de interesses como os da Fiesp Skafiquiana para que as micro e pequenas empresas tenham preferências no poder público, visto que desempenham uma papel importante na criação de emprego e renda.
Para ele, um exemplo de iniciativa pública para fortalecer as micro e pequenas empresas é a organização e o fortalecimento do aparato regulatório no município que estimule essas empresas a participar de compras públicas, com transparência e probidade. ‘Simplificar processos, oferecer capacitação, propiciar acesso ao crédito produtivo, entre outras, são exemplos de ações de políticas públicas que fortalecem a atividade produtiva de micro e pequenas empresas, com alto impacto na geração de empregos”, diz.
Segundo ele, houve um salto importante na contratação de serviços de micro e pequenos empresários em São Paulo. ‘Os valores contratados pelas micro e pequenas empresas na cidade cresceram mais de três vezes, saltando de R$ 211 milhões (2011) para quase R$ 700 milhões (2015). No mesmo período, os contratos de micro e pequenas empresas abaixo de R$ 80 mil/ano saíram de R$ 14 milhões para R$ 77 milhões, valor 5,5 vezes maior’, ressalta.