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Pelo fim das redes antissociais…

Por Allan Lucena

Eu excluí minha conta do facelivro. Duas vezes!

Deu um frio na barriga da primeira vez. Afinal de contas eu estava “jogando fora” o contato de mais de 1400 pessoas, amigos, colegas do colegial, vários colegas de trabalho, pessoas de perto, pessoas de longe, enfim, muita gente!

Muita gente com quem eu não conversava.

O frio na barriga me fez começar uma nova conta. Uma conta só com os mais próximos, começou com 100 pessoas. Realmente o pessoal com quem eu interagia (guarde bem essa palavra) e com quem eu me identificava. Cresceu pra 300 num piscar de olhos e começou a me incomodar. Com muitas pessoas dali eu nem conversava, de verdade. Mas a verdade é que eu tinha 2 páginas no facelivro que representavam meus blogs, por isso não queria excluir minha conta. Veja que motivação nobre e amistosa. Até perceber que nenhum dos meus contatos realmente se importava com isso. Pouca gente interagia com as páginas e nem com o meu perfil e isso me libertou.

Na segunda vez excluí minha conta com paz no coração, muita tranquilidade e até com alívio! Fiquei um tempo afastado de todas as redes sociais e percebi que a amizade reduziu-se à “interação”. O quanto de interação existe no nosso perfil e nas páginas. Nos grupos e nas comunidades.

Nada muito Social, mas quantitativo e estatístico. Muito mais curtição que socialização.

“Significado de Social

adj. Sociável; que prefere estar na companhia de outras pessoas.”

Quantas curtidas você tem na sua foto de perfil? Quantas na sua página? E na última publicação? Quantas são de amigos? Quantas são sinceras? Quantas você precisa pra se sentir parte do grupo? Para ser o popular?

E onde a amizade fica nisso aí?

O facelivro virou uma ótima janela para o mundo. Onde você pode ficar lá, mandando corações, joinhas e piscadas pra todo mundo que passa na rua. Acredito que já foi uma rede social, agora é só mais uma janela para nossa privacidade. Aliás, que perdeu-se. É mais uma forma de ser um vizinho. Você conversa com todo mundo da rua como se o mundo fosse um lugar seguro e favorável. Reclama do que todo mundo reclama, ri do que todo mundo ri, chora com quem chora e sente pena de cachorros maltratados, vomita arco-íris com vídeos de filhotes lindos e compartilha o que o povo popular publica. Quando sai da janela, sabe que nem gosta de conversar com aquele vizinho, que ele mente pra você (como você mente pra ele) e continua sua vida como se o mundo da rua nem existisse. Dentro de casa é outra vida. Mas o facelivro trouxe a janela da rua pra dentro de casa. Com webcam e selfies, com muitos recursos e muito mais mentiras. Com interações no lugar de amizade, com eventos e posts falsos entremeado com gifs e vídeos fofos. Gatos e política. Tudo muito desorganizado. Mas é assim que todo mundo faz hoje em dia, não é? Você vai ficar de fora da mídia?

E onde fica você, seus gostos, no meio de tudo isso?

Quando foi a última vez que você falou sobre algo que realmente gosta no facelivro? Que encontrou alguém com quem se identificasse e com quem pudesse manter uma conversa descontraída sobre um assunto que não estivesse na linha do tempo de todo mundo com muitos likes e muitos comments? Algo que você realmente goste, mas que seja diferente do que está no mainstream.

Se você não se sente dentro de uma bolha de posts sobre os assuntos do povo popular e de política e causas pelas quais você nem mesmo luta, você é um dos poucos que tem o social nas redes. Mas ela não é mais uma rede social e nessa hora, eu tenho saudade do Orkut, com seus convites pessoais para poder entrar, comunidades em que a linha do tempo era realmente organizada pelo Tempo e o limite de 12 fotos no álbum do perfil pessoal. Dos depoimentos e dos scraps.

Uma época em que a privacidade era preservada, os assuntos eram debatidos em comunidades específicas e fechadas para evitar os haters, com ordem cronológica de postagem e que ninguém podia ficar bisbilhotando na janela da casa de ninguém.

Éramos felizes e não sabíamos.

Hoje o facelivro escolhe através de algoritmos o que você pode ou não pode ver na linha do tempo que mostra de 5 em 5 minutos postagens de 4 anos atrás e só te deixa interagir com seus conhecidos que tenham muitos joinhas. Com propagandas em todos os cantos.

Você é livre. Você tem amigos. Você é popular!

Continue aqui, sua experiência no facelivro não está satisfatória porque você não tem muitos “amigos”. Use esse link para encontrar mais amigos e se conectar a mais pessoas que você não conhece. Conecte-se, faça contatos, coloque fotos. Abra-se. Continue no status quo!

Ou liberte-se das redes antissociais.

“Significado de Antissocial

adj. Que se opõe à organização da sociedade ou da ordem social.

P.ext. Contrário ao convívio em sociedade; oposto às situações que envolvem contato direto com outras pessoas.”

Significados do dicionário online Dicio www.dicio.com.br

Allan Lucena também escreve no blog Umikizu www.umikizu.com

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