Mas Leonel Brizola tinha uma vantagem. Sabia quem eram os inimigos e não vacilava para identificá-los, mesmo quando esses inimigos eram dissimulados.
Leonel Brizola, que tinha como parceiro outro gênio brasileiro, Darcy Ribeiro, foi no âmago de pelo menos duas questões fundamentais para o Brasil: enfrentou a Rede Globo e construiu escolas em tempo integral. E isso no meio de uma crise econômica que faz a atual ser pinto. Era a crise avassaladora deixada por uma ditadura perdulária, corrupta e sanguinária.
A Globo, criada em 1965, um ano após o Golpe Civil-Militar de 1964, é o símbolo máximo do atavismo brasileiro que precisa ser enfrentado.
Brizola sabia disso como ninguém, mas Lula contemporizou com a Globo e deram-lhe uma tremenda rasteira.
Brizola tomou muita pancada da Globo, mas soube reagir e vencer muitas das batalhas.
Queridinho da Globo, o juiz Sérgio Moro não faz nada de novo. Perseguir e punir ex-presidentes populares sempre foi o papel da justiça brasileira, assim se fez com Getúlio Vargas até o suicídio, assim se fez com JK até sua morte.
E assim fazem com Lula. O método de Sérgio Moro em parceria com a Globo é mais velho que minha vó.
Lula afirmou que a ‘condução coercitiva’ foi arrogância dos seus adversários e que se sentiu prisioneiro.
É hora também de o PT e Lula fazerem a profunda autocrítica e perceber que ficaram isolados. Sem isso não sairão da encruzilhada do Brizola.
O PT está completamente isolado no Congresso Nacional. E isso faz o governo Dilma ficar isolado também diante dos problemas econômicos que não são como pinta a Globo, mas existem.
Incapaz de reagir como partido ao governismo burocrático, o PT se tornou uma presa fácil para os setores mais abomináveis da população brasileira e para os abutres do PMDB.
A última propaganda do PT na televisão, há duas semanas, parecia propaganda da Ditadura Militar: “vamos unir o país, devemos ter uma única bandeira…blá blá blá”. O partido se afundou no governismo tacanho e não percebe que não tem mais a hegemonia da esquerda. Os marqueteiros tomaram conta do discurso político diante de burocratas vacilantes.
O tempo é curto e é hora de erguer da cabeça da jararaca, mas também de baixar o topete em nome dos próprios avanços que conquistou para a população e da sinuca de bico em que se meteu.
É hora de chamar os setores progressistas e divergentes para conversar, não para se impor. É hora de esquecer o estrelismo, as palestras de R$ 200 mil, as conquistas sociais. É começar do zero.
Pedro Maciel foi muito feliz em um artigo chamado “Clara, ligue para o Freixo”. Para Maciel, o momento é essencial para se buscar uma reconciliação com antigos companheiros do PSB, PSOL, PCdoB, PDT, RAIZ, com a esquerda do PMDB e em figuras da estatura de Bresser Pereira, ‘afinal todos tem muito a dizer, aprender e ensinar’.
Que falta faz ao Lula ouvir umas poucas e boas histórias do Brizola. (Glauco Cortez)