O estudo mostrou que a imunidade celular – mediada por linfócitos do tipo T – é tão ou mais importante para o controle da infecção pelo vírus da dengue do que a imunidade mediada por anticorpos.
Essa nova evidência pode ter impacto no processo de escolha da vacina mais adequada para as políticas públicas de imunização, dizem os autores do estudo.
O pesquisador Luís Carlos de Souza Ferreira, responsável pelo Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas no Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), explica que qualquer tipo de infecção viral estimula em humanos dois tipos de resposta imunológica: a produção de anticorpos específicos para reconhecer estruturas existentes na superfície do vírus e a ativação de linfócitos T citotóxicos (CD4 e, principalmente, CD8), que reconhecem e destroem as células do próprio organismo infectadas pelo patógeno.
A vacina contra a dengue do laboratório Sanofi Pasteur, já disponível, foi elaborada com o vírus da febre amarela modificado. Ela é capaz de induzir a produção de anticorpos contra o vírus da dengue, mas a imunidade celular gerada é contra o vírus vacinal da febre amarela.
“A vacina da Sanofi usa o que chamamos de vírus quimérico. Foram colocadas em seu envoltório estruturas do vírus da dengue, mas, no interior, é o vírus da febre amarela que está lá. A questão é que os linfócitos citotóxicos reconhecem preferencialmente proteínas expressas pelo vírus apenas durante a sua multiplicação dentro da célula infectada, mas que não estão presentes na partícula viral”, explicou Ferreira.
Já a vacina do Instituto Butantan, que acaba de receber o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para entrar na terceira fase de ensaios clínicos, foi desenvolvida com o vírus da dengue atenuado. Induz, portanto, os dois tipos de resposta imunológica contra a dengue.
“O Brasil vive hoje um impasse entre adotar a vacina do laboratório Sanofi Pasteur ou aguardar a conclusão dos ensaios clínicos do imunizante em desenvolvimento no Instituto Butantan. Mas somente a vacina brasileira, desenvolvida em parceria com o Institutos de Saúde dos Estados Unidos, é capaz de induzir a imunidade celular contra a dengue, que mostramos ser fundamental”, afirmou Ferreira.
Por meio de nota, o laboratório Sanofi Pasteur informou que a vacina por ele produzida “induz a resposta celular e humoral, levando à formação de anticorpos sorotipo-específicos, conforme demonstrado em estudo científico que avaliou a vacina em humanos publicado recentemente na conceituada revista científica Nature”. A empresa tamem contesta o estudo brasileiro publicado na revista Virology.(Carta Campinas com informações da Agência Fapesp)