Por Romualdo da Penha
O sistema de pontos corridos visa premiar a regularidade e eficiência do clube que em cerca de seis meses de competição, 38 jogos, chega à frente dos demais. A fórmula é recente e foi copiada dos principais campeonatos europeus. Antes, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade que administra o futebol brasileiro, privilegiava um sistema misto em que se classificavam um determinado número de clubes divididos em grupos para um torneio classificatório, semi-final e final.
Entretanto, a considerada elite do futebol brasileiro, composta por cerca de vinte agremiações, deixa transparecer desde o início do campeonato objetivos muito diversos do que propõe a participação de cada um, o título de campeão.
A negação deste objetivo principal e a articulação por ambições secundárias se manifestam de duas maneiras.
Primeira, o desejo é, ao final, chegar entre os quatro primeiros, integrar o famoso G4, grupo que se classifica para disputar no ano seguinte a Taça Libertadores da América, o mais importante torneio de futebol das Américas, que projeta internacionalmente o vencedor. Tão concorrido e até emocionante quanto a luta pelas primeiras posições está a briga para escapar do rebaixamento à série B, segunda divisão. Os quatro últimos destinados ao descenso integram o grupo denominado Z4.
Segunda, se no campo esportivo essa fórmula é a ideal, existem os fatores adversos, extra-campo, de fundo econômico e até políticos que podem influenciar nos resultados. As cotas de televisão, direitos de imagem, são mais expressivas para alguns clubes por causa da audiência. Erros de arbitragem, rivalidades, exposição e negociação de atletas para o exterior, investimento na troca de treinadores e reforços.
O regulamento permite que equipes se reforcem competitivamente contratando novos atletas durante a competição enquanto outras por necessidades financeiras forçam a negociação de jogadores, principalmente para o exterior. Esses fatos, ao final do campeonato, legitimam ou não o campeão, os quatro integrantes do G4 e os inconformados do Z4. Já se tornaram clichê as frases: não fosse aquele empate, aquela derrota em casa, os pênaltis inexistentes ou mal batidos e aquele “apagão”. Há quem afirme, em off, interferências políticas e financeiras. Bem mais inusitado talvez seja o fato de na rodada final certas equipes, apoiados até pela própria torcida, não se importarem nem um pouco em vencer ou empatar uma partida desde que o resultado provoque a queda ou evite a sucesso de um arquirrival.