Valteno é uma espécie de menino de ouro da Band, operário padrão, funcionário do ano.
Ele faz em reportagens o que deveria ser dito em editorial pela empresa. Todos sabemos da ligação da Band com a defesa dos ruralistas e com a propriedade de imóveis em São Paulo. Aliás, o prefeito Fernando Haddad que o diga.
Mas Valteno, operário padrão, faz editorial em forma de reportagem. Daí virou um especialista em reporcagens atrás de reporcagens.
Nas últimas, após o assassinato do índio Simeão Vilhalva, no município de Antonio João, em Mato Grosso do Sul, o menino de ouro da Band foi escalado. Ele conseguiu fazer uma reporcagem em que os assassinos se tornam vítimas. Sim! Nas entrelinhas, a reportagem-editorial de Valteno diz que “o índio malvado entrou na frente da bala, que custou alguns tostões ao fazendeiro”.
Sim, esse Valteno e fantástico. Nenhuma palavra sobre o grupo paramilitar denunciado várias vezes pelo Cimi (Conselho Missionário Indigenista), e que está sendo investigado em inquérito policial, nenhuma palavra sobre o tom autoritário e ameaçador de ruralistas no encontro com o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso.
Não, Valteno escolhe a dedo seus entrevistados. Após o assassinato de Simeão Vilhalva, Valteno não se interessa em explicar o assassinato, revelar o assassino. Pelo contrário, ele foi em busca de um índio de arco e flecha para mostrar o perigo para os fazendeiros. Só faltou dizer que Simeão Vilhalva merecia ser morto porque “invadiu a fazenda”.
Nenhuma palavra para explicar a ação de Gilmar Mendes e o processo bloqueado de demarcação das terras indígenas. Valteno é fantástico. Os descendentes dos índios brasileiros “são invasores”. Boechat, Valteno te deixa sem palavras.