A arte seria capaz, com sua estética, forma, imagens e construção, de transformar o sujeito? Tal pergunta, que, em diferentes proporções, atravessou a história da arte, é respondida de forma afirmativa pela artista que neste mês de agosto ilustra o site Carta Campinas, como parte do projeto Carta Campinas Visuais.
Para Marisa Martins Carvalho, a arte possibilita um desenvolvimento pessoal de caráter transformador, e essa aposta feita tanto na arte, quanto no próprio sujeito, se desdobra e se deixa ver em cada um de seus trabalhos.
Marisa nasceu em Itapetininga, São Paulo, em 1957. Atualmente, reside e trabalha em Campinas. Tem especialização em Artes Visuais, pela Unicamp, Curso de História da arte na Escola de Design Arquitec, Campinas. História da Arte na Scuola Toscana, Firenze, Itália, além de cursos livres de pintura com Paulo Branco, Sonia Scalabrin e Vera Ferro.
Os trabalhos de Marisa se constroem a partir de impressões que refletem a alma humana, suas angústias e ansiedades. Suas pinturas, algumas em telas com tinta acrílica, e acrílica com colagem, outras em óleo sobre tela e guache sobre papel, também retratam várias etapas de sua vida, mostrando, através das cores, as diferenças entre esses períodos. Há aqui também uma aposta na expressividade da cor, na capacidade que os tons possuem de revelar o estado de um momento, de uma personalidade, e mesmo de uma vida.
Suas imagens artísticas misturam cenas urbanas e figuras humanas em soluções com manchas, matrizes e texturas. Predomina em seus trabalhos um caráter figurativo, onde as formas sempre resvalam em um universo interno, mais íntimo.
A partir de uma busca sempre constante em demonstrar expressões e reflexões, através da cor e da forma, as telas de Marisa permitem aos seus observadores compartilhar sentimentos, ambientes, posturas, presenças na atmosfera em que cada um se descobre existir.
Uma das telas de Marisa, “Casal Perfil Nu”, revela os contornos, levemente sensuais, de duas figuras que se evanescem em manchas de cores predominantemente claras. Parece se produzir no quadro uma tensão entre a figura e a ausência dela. Algo de onírico parece existir na tela “Conversando com as estrelas”, onde novamente as figuras emergem de dentro de um ocaso que se deixa esburacar pela realidade.
“Coragem” é uma tela repleta em sua economia de elementos, mas que se potencializam seja no marcante tom vermelho de fundo, seja na intrínseca força que há na cena representada. O quadro nos chega como uma sensível e precisa impressão sobre a maternidade e a condição feminina. A temática feminina continua a desdobrar-se em “Mulheres na Floresta”, tela que invade os olhos de cores, formas geometrizadas em linhas retas, detalhes ornamentais, e provoca em quem a vê a sensação de que as mulheres se confundem – divinas e guerreiras – com a floresta. (Maura Voltarelli)