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A vergonhosa situação do Ministério Público de MG no caso do Aeroporto de Cláudio

O jornalista da Lucas Ferraz, da Folha, que revelou durante a eleição passada a existência de um Aeroporto de uso particular, construído com dinheiro público na fazenda de um tio do então candidato Aécio Neves (PSDB), retomou o tema e expõe a situação vexatório do Ministério Público de Minas Gerais, que arquivou a investigação por duas vezes. Veja abaixo trecho do texto publicado por Ferraz na Folha e republicado no DCM.

O jornalista norte-americano Henry Louis Mencken, mestre das tiradas antológicas, cunhou uma, há quase um século, que caberia perfeitamente no Brasil destes tempos: “É difícil acreditar que um homem esteja dizendo a verdade quando você sabe muito bem que mentiria se estivesse no lugar dele”.

Lembrei-me da frase de Mencken ao ler o artigo do deputado federal Domingos Savio (PSDB), publicado neste espaço no domingo passado (16), sobre a construção do aeroporto de Cláudio, em Minas Gerais, erguido em terras de um familiar do senador Aécio Neves (PSDB). A obra do Executivo mineiro foi concluída em 2010, no final do segundo mandato do tucano no Estado.

Citando o recente arquivamento de investigação do Ministério Público de Minas Gerais, que pela segunda vez apurou o caso e não encontrou irregularidades na construção da pista, o deputado cobra reparação a Aécio, que teria sido injustiçado por uma “falsa acusação”.

Classificando a reportagem de “ficção”, ele escreve que a história “não é”, como “nunca foi”, verdadeira.

Ao defender o aliado, o presidente do PSDB de Minas omite e falseia deliberadamente informações que foram publicadas nesta Folha.

(…)

Todos os detalhes do episódio –a obra ao custo de R$ 14 milhões, a antiga pendência judicial pela posse da área, o funcionamento irregular e privado da pista, que era controlada por familiares de Aécio– foram relatados e documentados em reportagem de minha autoria, publicada em julho de 2014.

A 6 km da pista está a fazenda da Mata, da família do senador e um de seus refúgios preferidos, descrita por ele, à revista “Piauí”, como o “meu Palácio de Versalhes”.

Além de informações extraídas de documentos judiciais e do governo estadual –todos públicos–, duas fontes primárias foram fundamentais para sustentar o relato exposto no jornal. As declarações, gravadas, foram apagadas da memória de conveniência do deputado.
Domingos Savio afirma que, à época das reportagens, a gestão do aeroporto já era de responsabilidade da Prefeitura de Cláudio, que teria também as chaves da pista.

O que emerge da reportagem é outra coisa: o chefe de gabinete da prefeitura não soube explicar o funcionamento do aeroporto, pois este não era controlado pela administração municipal, mas, sim, pela família de Múcio Tolentino.

O filho de Múcio confirmou que a família tinha a posse das chaves. Disse que abriria a pista para quem precisasse utilizá-la, sem custo algum, e ressaltou: “O aeroporto, para todos os efeitos, ainda é nosso”.

Quatro anos depois de ser construído, era esse o panorama do aeródromo: além do controle privado, ele operava de forma irregular, sem a homologação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

(…)

O arquivamento do caso, que em si nada significa, não apaga os fatos levantados e comprovados em uma investigação jornalística legítima e autônoma.

O engraçado é que a segunda investigação da Promotoria mineira, instaurada após a revelação da Folha, ignorou todos os elementos expostos na reportagem. Talvez os promotores tenham alguma explicação.

Como diria Mencken, “pode ser um pecado pensar mal dos outros, mas raramente será um engano”.

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