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Não é engraçado, é falta de empatia

Por Luana Mestre

O que pauta o humor? Há limites? Quais são? É possível ser engraçado sem ofender?

Essas questões estão cada vez mais latentes no dia-a-dia e permeiam diversos discursos, de um lado aqueles que se intitulam “politicamente incorretos”, que acreditam que o humor não tem limites, por outro, aqueles que acreditam que há sim um limite para o humor (Não vou chamá-los aqui de “politicamente corretos” porque essa foi uma denominação dada pelos ditos “politicamente incorretos).

No último dia 16, Gregório Duvivier pediu desculpas em seu Facebook pelo último vídeo veiculado pelo “Porta dos Fundos”, que ofendia as pessoas transexuais (embora esse não fosse o objetivo inicial). A ofensa se dá pelo reforço do estereótipo já conhecido, o de que mulheres trans são “fáceis”. Essa atitude do Gregório, que “escorregou”, infelizmente não é repetida em muitos programas ditos de “humor”. E não trato apenas da questão das pessoas trans (extremamente problemática), mas também das formas de retratação da mulher na sociedade, do homem negro, do deficiente, do homossexual, enfim, de todos os que não “sorvem” privilégios na sociedade classista, moralista, machista e etc.

O atentado ao Charlie Hebdo, em janeiro, foi um episódio que fez o mundo questionar os limites do que seria engraçado. Muitos apoiaram o veículo, com a hashtags #JeSuisCharlie. Aqueles que lembraram do preconceito ao islamismo como expressão humorística usaram a hashtag: #JeNeSuisPasCharlie. No último dia 18, inclusive, foi anunciado que o jornal não publicaria mais sátiras de Maomé.

O documentário “O Riso Dos Outros”, de Pedro Arantes, é bastante elucidativo. Por que rimos de alguém que caiu na calçada? A atriz Mariana Ramellini, uma fontes entrevistadas, explica: “Isso é engraçado. Mas, você só ri dessa pessoa porque: ela não morreu e também porque essa pessoa não é você”. Já o escritor Antônio Prata reforça a visão de Mariana, afirmando que o humor “depende da ausência de compaixão”. Ora, é lógico: só rimos porque não sentimos a dor do outro, não vivenciamos isso. A cartunista Laerte é clara: “ O prazer de rir quando uma pessoa cai é proporcional (ou desproporcional) ao gasto emocional que você teria se a pessoa fosse sua mãe que quebrou a bacia”. Portanto, chegamos a conclusão: aquilo não foi engraçado, foi falta de empatia. E uma piada nunca é apenas* uma piada: ela reforça um estereótipo, ela fragiliza uma pessoa.

O humor, na verdade, deveria ser libertário. Mas, como chegar nisso? Acredito que quando se muda o alvo, do oprimido para o opressor, o humor ganha características inteligentes e libertadoras. Mas, há aqueles que defendem o humor raso (no documentário não faltam exemplos, como Danilo Gentili e Rafinha Bastos), dizendo que fazem o que as pessoas acham engraçado, e se a plateia não risse, eles não o fariam mais.

Para esse tipo de argumento, um dos entrevistados foi claro: “Quem se curva muito para a plateia, um dia acaba de quatro pra ela”.

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