O deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi e continua sendo um dos protagonistas do noticiário político brasileiro em 2015. Sua carreira política, entretanto, começou muito antes do 1º de fevereiro que o elegeu presidente da Câmara dos Deputados.
Os primeiros passos do deputado federal carioca começaram nos momentos iniciais da redemocratização. Em 1989, Paulo César Farias, conhecido como PC Farias, o convida para se filiar ao PRN e assumir a tesouraria do comitê eleitoral de Fernando Collor no Rio de Janeiro, então candidato à Presidência da República. A atuação lhe valeu a presidência da Telerj. A passagem de Cunha pela companhia rendeu denúncias posteriores de irregularidades em contratos públicos e licitações.
Cunha foi um dos personagens secundários na queda de Collor. O irmão do então presidente da República acusa PC farias, tesoureiro da campanha presidencial, de operar no governo um esquema de corrupção cujo volume, na época, foi estimado em R$ 1 bilhão. Collor cai em 1992. Cunha é um dos investigados no “Esquema PC”, e é afastado da Telerj em 93. Farias seria encontrado morto com a namorada em 1996.
Após a saída do político da estatal de telefonia, Cunha se aproxima de Francisco Silva, então deputado federal mais votado do Rio e dono de uma rádio evangélica. Em 1994, se filia ao PPB, hoje PP. Por indicação de Silva, Cunha se torna presidente da Companhia Estadual de Habitação na gestão de Anthony Garotinho. Fica no cargo por seis meses, sendo afastado por denúncias de contratos sem licitação e favorecimento de empresas inexistentes.
Em 2001, Cunha assume, por meio de uma articulação de Garotinho, como deputado na Alerj, o que dificulta as investigações contra ele. Em 2002, é eleito deputado federal. Em 2003, troca o PP pelo PMDB. É reeleito em 2006 e 2010.
A edição de dezembro de 2014 da Revista do Brasil já alertava que a liderança de Eduardo Cunha no Congresso é uma das ameaças à democracia. O editorial assinalava a necessidade de o governo Dilma se voltar para as forças que garantiram tanto sua reeleição como a de Lula em 2006. O governador do Maranhão, Flávio Dino, em entrevista, dizia que Cunha no comando da Câmara representaria “dias sem tédio” à presidenta. E uma reportagem trazia o “currículo” do deputado.
Em “paralelo” à política, pela proximidade com Francisco Silva, Cunha se torna evangélico e radialista. Sua voz torna-se famosa no segmento. Isso explica parte de sua popularidade no Rio de Janeiro – em 2014, foi o terceiro candidato deputado federal mais votado, com 232.708 votos, o que equivale a 3% de todo o eleitorado fluminense. Outra parte da explicação é o fato de que se trata de um dos políticos com maior capacidade de arrecadação para campanhas. No último pleito, gastou mais de R$ 6 milhões para se eleger, de acordo com o que declarou para o Tribunal Superior Eleitoral.
Dessa forma, Cunha garante a fidelidade de deputados eleitos por conta das ajudas financeiras para suas campanhas e pelo quoficiente eleitoral. Obviamente, há um outro lado. Cunha se compromete com as pautas de seus financiadores: a terceirização, o perdão da dívida das seguradoras e o próprio financiamento empresarial de campanha são bandeiras do presidente da Câmara.
As pautas de Cunha, seu próprio histórico político – do partido de Collor, passando pela legenda herdeira da ditadura até a agremiação que liderou a oposição oficial ao regime militar – e a confusão ideológica que reina no sistema político brasileiro apontam para o fato de que as bandeiras defendidas por ele transcendem bancadas partidárias e a própria noção de oposição e situação, governo e oposição.
Nesse cenário, Cunha conseguiu importantes vitórias. Utilizando-se de manobras, recolocando em votação questões que havia perdido, ele foi capaz de obter maiorias expressivas. Conseguiu, algumas vezes torcendo a legalidade, aprovar sua agenda conservadora em questões fundamentais para a sociedade brasileira. Não é forçoso dizer que Cunha tem desestabilizado as relações entre os poderes da República.
Histórico do presidente da Câmara – do fisiologismo clássico ao conglomerado de bandeiras que não atendem a projetos, mas a interesses – é a mais perfeita tradução do sistema político falido. (Brasil de Fato/RBA)