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A violência aflitiva do sofrimento nos tecidos pintados de MAngelica

“Amarrados”

Há nas telas da artista Frida Kahlo uma violência muitas vezes de presença oculta, mas constante, que transparece no sangue vertido pelo corpo, no rosto algumas vezes sem nenhuma expressão, nas deformações da forma, na implosão dos anteparos externos, talvez o maior deles – o corpo – em um representar de orgãos, víceras, veias.

Frida é uma das influências da artista que neste mês de julho ilustra o site Carta Campinas com sua obra, como parte do projeto Carta Campinas Visuais, Maria Angélica Pantalena.

Maria Angélica, ou simplesmente MAngelica, constrói suas imagens a partir da prática artística de “Pintar o Pano”. Suas obras são feitas sobre tecidos, geralmente de grandes dimensões, utilizando materiais e técnicas dos mais variados, como aquarela, guache, giz pastel, acrílico e colagem. Muitas vezes utilizadas ao mesmo tempo, as técnicas e cores se combinam para exprimir a intensidade da cena.

Como um lampejo de martírio, as cenas pintadas pela artista condensam estados corporais de angústia e sofrimento. Não há beleza. Os rostos são destituídos de qualquer proporção de formas, ou mesmo expressão de contentamento. Há sempre um desamparo que se desdobra em aflição em meio aos tons surreais, de erotismo, que rasgam os corpos reprimidos, sem liberdade, de olhares entristecidos.

Além de Frida, a artista busca referências para o seu trabalho no sagrado, imagens de jornais e revistas, leituras, filmes, pesquisas, e também na arte de Louise Bourgeois, Willian Kentridge, Daumier, e Klint, sua primeira inspiração.

Cria-se, assim, a estética e as constelações iconográficas de uma arte que reflete estranhamento, talvez seja este seu engajamento poético, buscando, nas potencialidades da imagem, dizer algo do martírio do cotidiano, muitas vezes sem sangue derramado, cuja violência vem do dever a cumprir, do trabalho intenso, dos preconceitos e parâmetros a seguir. Um martírio que não passa essencialmente pela dor e morte, mas que se comunica com algo que atinge o íntimo de si.

Nascida em Araraquara em 1955, atualmente MAngelica reside em Sousas, distrito de Campinas. Desde criança, “Pintar” sempre foi um prazer, que se desdobrava em atividades como fazer sua própria tinta, desenvolver técnicas através de livros e pequenos cursos feitos por onde residiu. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Mackenzie, de São Paulo. No ano 2000, muda-se para Campinas, onde retoma o desenvolvimento de seus trabalhos artísticos em constante estado de construção, dando sentido à descoberta de um tema a explorar.
(Maura Voltarelli)

“Parir a inspiração contida dentro d’alma, dar voz à lucidez” (Mariah de Olivieri)

“Afogados”
“Folia 1”
“Gaiola”
“Borboleta 4”
Cultura Carta

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