Sistema pode criar peixes e hortaliças em casa ou no semiárido com 90% menos água

Um revolucionário sistema, a aquaponia, pode alterar profundamente a produção de peixes, hortaliças e até ser um importante instrumento no combate à fome e à miséria no semi-árido.

Normalmente, o cultivo de hortaliças consome muita água, mas se for associada à criação de peixes pode economizar até 90% de água em relação à agricultura convencional. Essa é a ideia da aquaponia, que também elimina completamente a liberação de água com resíduos no meio ambiente, pois trata-se de um sistema fechado, diferentemente das criações convencionais.

Isso fez com que pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE) desenvolvessem sistemas que podem ser usados em apartamentos e também por populações de baixa renda em regiões de muita seca.

Para o pesquisador da Embrapa Paulo Carneiro, o sistema tanto pode ser desenvolvido para consumo próprio, em sistemas caseiros para produção familiar, inclusive no meio urbano, em casa ou varanda de apartamento, desde que receba pelo menos cinco horas diárias de sol, como também com objetivo comercial, em larga escala, com altas densidades de peixes e vegetais. “O manejo é fácil e o produtor tem pouca coisa para monitorar, tanto na produção vegetal quanto de peixes. Hortaliças de ciclo curto, como alface, por exemplo, podem ser colhidas após quatro a seis semanas”, destaca.

Carneiro acredita que a aquaponia se tornará popular no Brasil a exemplo do que já acontece há mais de dez anos em vários países, embora ela ainda seja pouco conhecida por aqui. Ele acrescenta ainda que caso haja resistência em abater os peixes, o produtor pode criar peixes ornamentais.

“Um projeto como esse funcionaria muito bem no Semiárido”, comenta Genivaldo Monteiro, assessor técnico da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia (Sedetec). As casas, sítios e o comércio, na região rural do Semiárido, são muito distantes. A aquaponia produz alimentos saudáveis, com pouco consumo de água e pouco tempo de trabalho”, complementa Genivaldo. “É maravilhoso o quanto pode-se associar ciência e tecnologia com o desenvolvimento social e encontrar soluções para áreas extremas como o semiárido”, disse.

O termo aquaponia é derivado da combinação das palavras “aquicultura” (produção de organismos aquáticos) e ‘hidroponia’ (produção de plantas sem solo). Ela é composta por um tanque no qual são produzidos os peixes. Alimentados por ração, eles liberam dejetos ricos em nutrientes que, por sua vez, bombeados para uma parte superior, nutrem os vegetais. As raízes, ao retirar os nutrientes, purificam a água que retorna por gravidade para o local onde são produzidos os peixes.
O produtor de vegetais hidropônicos no Município de Socorro, em Sergipe, Luiz Fernando de Araújo, aderiu de forma experimental à produção de alface crespa e roxa na aquaponia e percebeu a diferença em relação à produção hidropônica dos mesmos produtos. “É uma qualidade ímpar. Faz diferença no sabor do alimento, nas folhas e textura”, afirmou. “É fantástico. Maravilhoso.”, complementou. Fernando espera que a linha de pesquisa possa continuar para a produção aquapônica em escala maior, comercial.

“Promissor”, disse o analista técnico do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Helenilson de Jesus Oliveira, gestor do Programa de Agronegócio. Ele conta que o Sebrae já trabalhou com o Programa Alimentos Seguros (PAS) que divulga boas práticas de produção, manipulação e armazenamento de alimentos. “O programa deu muito certo”, disse. “Os kits para o produtor custavam cerca de R$ 10 mil e o de aquaponia custa menos de R$ 3 mil e, por meio de parcerias, pode-se implementar um programa junto aos produtores em pouco tempo”, acredita Helenilson.

Além disso, o pesquisador Paulo Carneiro acredita que, no contexto educacional, professores do ensino fundamental e médio podem transformar a aquaponia em uma eficiente ferramenta de ensino em disciplinas como biologia, meio ambiente, física, química, matemática economia e engenharia.

A aquaponia está crescendo em várias partes do mundo. Na Alemanha, uma fazenda urbana com uma estufa de 1,8 mil metros quadrados irá produzir anualmente cerca de 35 toneladas de verduras e legumes e 25 toneladas de peixe. Em maio de 2015, os moradores de Berlim poderão comprar os primeiros legumes produzidos no que poderá ser a maior fazenda aquapônica urbana da Europa. Na região de Auvergne, na França, o projeto Osmose pretende produzir cinco mil alfaces e até 200 filés de trutas por semana. Nos Estados Unidos, grandes centros urbanos já produzem peixes e hortaliças em terraços no topo de prédios, economizando em transporte, além de todas as vantagens descritas acima. (Carta Campinas com informações de divulgação)

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