Por Regis Mesquita
A Irlanda é conhecida como um dos países mais conservadores da Europa. Há pouco mais de 20 anos, até 1993, era crime ser homossexual. Atualmente, não só não é crime, como é reconhecido o direito desta minoria de amar e constituir família.
Para os defensores do não, a família é apenas aquela constituída por um homem, uma mulher e sua prole. Os cartazes dos contra a legalização mostravam um casal beijando seu filho pequeno. Uma mensagem clara: só esta família serve, as outras são ruins.
A campanha pela legalização foi calcada em argumentos mais positivos. O primeiro deles é a cidadania: todos os cidadãos devem ter os mesmos direitos. Ninguém pode ser discriminado. O segundo argumento é o respeito: a base da família é o amor e o respeito. Os mais conservadores poderão continuar se amando e constituindo famílias. Os homossexuais também poderão se amar e constituir suas famílias. É o reconhecimento de que os homossexuais são seres humanos capazes de se amarem e de constituírem uma vida conjunta repleta de paz e harmonia.
No auge da campanha, as pessoas a favor do casamento para todos mostravam pequenas placas escritas: igual. Estas placas refletiam o espírito de respeito e reconhecimento de que os homossexuais são pessoas que podem trabalhar, estudar, se divertir e se amarem. Alguns se amarão tanto que desejarão constituir vínculos. Igual a todos. Esta é a mensagem. A mensagem de parte Igreja Católica e de outros grupos do não ficou marcada como discriminatória e negativizadora.
O mesmo embate é travado no Brasil. Na Câmara dos deputados, a bancada evangélica tenta aprovar o “Estatuto da Família”. Este estatuto é baseado nas mesmas crenças que perdeu o referendo na Irlanda. No Brasil, porém, a bancada evangélica quer manter a decisão restrita ao plenário do Congresso Nacional. No esforço de aprovação deste “Estatuto da Família”, a bancada evangélica se aliou a ruralistas, votando leis que prejudicam o meio ambiente e a saúde pública. Também se aliou a grupos de oposição para derrotar o governo federal em várias votações. O que eles esperam é a retribuição por parte de ruralistas e da oposição quando forem votados os assuntos de interesse dessa bancada religiosa.