Por Guilherme Boneto
Você que vai às ruas no próximo dia 15, manifestando a sua prerrogativa inalienável de protestar contra o governo federal, tem prestado atenção a um eco que circula na imprensa nas últimas semanas? Reforma política… Reforma política… Reforma política…
Você, que bateu panela na sacada do seu apartamento no último domingo, pondo em risco o brilho inox das suas caçarolas, sabe o que significa financiamento público de campanha? Conhece o conceito de ampliação da participação popular? Escute o eco… Reforma política… Reforma política…
O seu protesto, contudo, será exclusivamente contra a presidenta Dilma Rousseff e seu governo, estou certo? É compreensível, uma vez que, hoje, boa parte da população dedica a ela um ódio inexplicável e profundo. Ainda que suas atitudes enquanto líder do Executivo sejam questionáveis, nada justifica as últimas manifestações raivosas que têm tomado conta do país. Dilma tem uma longa e honrosa trajetória de vida. Você, que como eu, ainda nem chegou aos trinta anos de idade, não tem sequer o direito de chamar uma senhora de “vagabunda”, “vadia”, e outros nomes aos quais não farei referência pela manutenção da saúde do meu estômago. E você, que já passou dos trinta, se usa esses nomes contra a presidenta ou contra qualquer outra pessoa, deveria ter vergonha de fazê-lo.
Longe de mim defender as medidas conservadoras de Dilma para a economia. Acho que por sua capacidade, sua formação acadêmica e sua inteligência reconhecível, a presidenta poderia fazer muito mais pelo país, inclusive batalhar junto ao Parlamento para aprovar medidas que beneficiassem toda a população, como a criminalização da homofobia, por exemplo – Sebástian Piñera, direitista e ex-presidente do Chile, o fez no exercício do mandato, e conseguiu. Mas a minha crítica a Dilma jamais passará próxima de sua vida pessoal. Utilizar contra ela xingamentos de conotação sexual é não apenas uma covardia, mas uma prova de que a ferida do machismo, do patriarcalismo e da misoginia continuam mais que aberta neste país.
Ademais, não importa quem é o presidente. Ele poderia ser o senador Aécio Neves, a ex-deputada Luciana Genro, ou quem sabe o caricato Levy Fidelix, e de nada adiantaria a presença de nenhum deles no que tange o combate à corrupção, a menos que houvesse a reforma política à qual me referi no início deste texto. É por ela que todos nós deveríamos estar batalhando. Não pelo “impeachment”. Não para “tirar o PT”. Não para ver escorrer sangue, só pelo prazer que isso proporciona. A deposição da presidenta Dilma não é a solução para a crise que estamos enfrentando; não é sequer o início dela.
Você, que já se contaminou pelo ódio ao governo, permita-se contaminar pelo eco. Reforma política… Reforma política… Informe-se. Vá atrás. Busque ideias. Mande e-mails. Pressione. Reforma política… Reforma política… Permita que o eco invada suas veias como um daqueles insuportáveis hits do verão, incapazes de deixar nossos ouvidos durante horas. E lute. Lute muito. O Brasil pode ser um país diferente com a sua e a minha participação. Mas, com todo o respeito, perdoe-me por informar, as suas panelas, as suas buzinas e a sua falta de educação não vão fazer a diferença nesse processo. Não importa se você apoia o PT, o PSDB ou qualquer outro partido, se é de esquerda, de direita ou de centro, preocupe-se em entrar para a história deste país pelas lutas que travou, pelos debates de que participou, pelos diálogos que teve em nome de um futuro melhor. Ideias sempre serão bem-vindas. Mas o seu ódio é absolutamente dispensável.