Por Wilson Gomes
Se você está pensando em ir exercer o seu direito democrático de demonstração política para berrar pelo RETORNO DOS MILITARES ao controle do Estado brasileiro, violando, de um só golpe, todas as instituições da democracia liberal e o direito de a maioria escolher quem governa o país, também não há o que possa lhe dizer que você já não o saiba: você é um detestável autocrata, inimigo da democracia, amante de tiranias e ditaduras e o quero bem longe de mim.
Se você, então, planeja reivindicar impeachment ou intervenção militar com base no argumento de que já vivemos sob uma DITADURA COMUNISTA BOLIVARIANA, de que o Brasil já é igual à Venezuela e se encaminha para ser uma Cuba (mas você bem queria que fosse um Paraguai para sapecar um impeachment relâmpago na presidente), então o seu caso é ainda mais grave: ou você ou é um delirante e alucinado cuja mente se desapegou da realidade, ou é um ignorantão político do nível samambaia que acreditaria até se lhe dissessem que Dilma é venusiana, ou, enfim, você é simplesmente um canalha, embriagado de má-fé, que sabe que o que afirma não tem o menor cabimento, mas criou uma fantasia que lhe é conveniente para arregimentar uns otários para a sua causa.
Fora essas “razões”, entretanto, respeito qualquer outra razão para que você vá protestar, no domingo ou no resto do ano. Na democracia, são válidas todas as razões para se discutir política, mobilizar-se, demonstrar ao sistema político o seu sentimento, protestar contra agendas, políticas e comportamentos. Exceto aquelas que violem ou acintosamente neguem as regras do jogo democrático e os princípios da democracia liberal. Você, por exemplo, não pode achar que as ruas sejam um modo de aferição da vontade do povo melhor do que as urnas, que, aliás, acabaram de se expressar. Você não pode imaginar que a sua vontade, mesmo unida a milhares, talvez milhões de outros que gritam nas ruas, possa imperar sobre a maioria, mesmo que tenha certeza de que a maioria é estúpida e está errada. Você não pode sacar do poder, no urro e no berro, uma presidente que acabou de ser eleita, só porque nem ela nem o seu partido lhe apetecem. Respeitadas as regras da democracia, contudo, todo o resto é legítimo. Proteste, manifeste-se, grite mesmo. Mas jogue limpo, dentro das regras do jogo, como todo mundo sob o contrato social democrático. (Wilson Gomes)