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A Pequena Coletânea da Esperança Continua…

1) Germinou…

Eu cultivo uma flor de pensamento,
E nem sequer plantei sua semente,
Mas sei que ela veio com o vento,
Que balançou a flor de uma outra mente.

E a flor que germinou sem permissão,
Já espalha seu perfume na distância,
Criou raízes no meu coração,
E cresce quando penso em tolerância,

Ela respira à luz da liberdade,
E tem a cor plural das diferenças,
Um semblante de paz que a tudo invade,
Mas murcha um pouco ao som das desavenças.

Ela me ensina novos sentimentos,
E pede ao vento pra soprar horrores,
Balançando um milhão de pensamentos,
Para que todos nós pensemos flores!

2) A opção:

Ah, existência cheia de poréns,
Onde a justiça tem um alto custo,
Onde nos nivelamos por vinténs,
E onde ser rico é mais do que ser justo.

Aqui há medo em todos espaços,
Aqui se subestima a autonomia,
E um trilho duro guia nossos passos,
E é pecado crer na utopia.

Aqui nos dopam dos piores ópios,
E aprisionam nossos corações,
Não podemos ser donos de nós próprios,
Mas uns podem ser donos de milhões!

Cegos à natureza que sublima,
Irrigamos de sangue a nossa terra,
As flores são pra se marchar por cima,
E gerações se criam pela guerra.

Mas vejo ainda o verde em nosso chão,
E vejo, ao longe, a marcha virar dança,
E na esperança, a única opção
Dos loucos que acreditam na mudança.

Se a Lua ainda crê no nosso amor,
Se o Sol se nos entrega a cada dia,
Podemos transformar a sombra em cor
E o nosso dissabor em poesia!

A dor é uma das faces da verdade,
Mostrar a face linda é minha lei,
A luz da vida vem da liberdade,
E enquanto ela não finda, eu sonharei…

3) Uma raça como a nossa:

Vivem de girar uma engrenagem,
Sentindo muito medo de pensar,
E o bom da vida, olham de passagem,
Que a engrenagem não pode parar.

Precisam agradar a sociedade,
Que, para encarcerá-los, fez a lei.
Colocam seus irmãos atrás da grade
E pagam seus impostos para o rei.

Outra invenção mudou seu mundo inteiro.
É a luz que ilumina seus caminhos,
Gastam a vida atrás do tal dinheiro
E de tristeza, prendem passarinhos.

Olhos bem baixos, rota circular,
Esperam a chegada de outra sorte,
Vivendo neste enorme suportar,
Porque gozar, amém, só vem além da morte.

Não percebem que são maravilhosos,
Nem enxergam o seu potencial,
E temem os trajetos sinuosos,
Como temem o sobrenatural.

Mas natureza é tudo que eles têm,
O ar pra respirar e o raciocínio,
A água de beber e o querer bem,
E amando a vida mudam seu destino.

Já se cansaram de criar conflitos
E optaram pela tolerância,
Já crêem mais em si do que em mitos,
Sabem que prejulgar é ignorância.

Escravos de tamanha crueldade,
Não temem mais os traumas da mudança,
Libertos pelo apego à liberdade,
A liberdade de ter esperança.

4) Agora sim!

Acabou, doeu, não tenho mais,
Tristeza se alastrou feito capim,
Brotaram prantos sob a minha paz,
E eu me sentia mal dentro de mim.

Enfim isto foi ontem, hoje chove,
E aquele cheiro dela faz tão bem,
Que o passado já não me comove,
E agora espero o Sol que eu sei que vem.

Sei que hoje tem manga pra chupar,
E que tem bem-te-vi pra eu ouvir,
Tem riso de criança pelo ar,
E tem janelas para o ar fluir.

Tem sempre sete vagas de pular,
E um mar desconhecido de viver,
De navegar intenso e devagar,
De vagar pela vida com prazer.

De ontem eu só quero aprendizado,
De ontem fica o dito por não dito,
Agora eu tenho amigos ao meu lado,
E o horizonte agora é mais bonito.

Eu agora sou grato pela vida,
Pelo regato doce de água fria,
Agora é minha hora preferida,
E a Lua me sorri ao fim do dia.

Agora eu quero a luz mil estrelas,
Tenho saudade do gosto das amoras,
Mas amanhã ainda posso tê-las
Num novo hoje, cheio de agoras.

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