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Nos contratos da Sabesp, grandes empresas são incentivadas a gastar mais água

A crise hídrica de São Paulo pode expor a situação de penúria em que a população é colocada diante de grandes consumidores de água. Enquanto o governo de São Paulo multa a população 100% se aumentar o consumo em relação a média de consumo de 2013, grandes consumidores são incentivados a gastar água.  Veja reportagem:

São Paulo – A companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) enviou documento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o cumprimento do contrato da estatal com a prefeitura de São Paulo, na Câmara Municipal, com a relação de 294 dos atuais 500 grandes consumidores da capital que possuem contrato de demanda firme. São indústrias, hotéis, órgãos governamentais, clubes de futebol, shoppings, entre outros, que consomem, em média, 713 milhões de litros de água por mês, com preços bem inferiores aos praticados para empresas e para a população nos contratos convencionais. O documento, não revelado publicamente pela empresa, foi revelado por reportagem do portal El País publicada na noite de ontem (12).

A lógica do contrato de demanda firme é o inverso da relação com a população e as empresas em geral. Quanto mais água o grande consumidor gastar, menor será o preço final por litro. Apesar das medidas de contenção do consumo e penalização aplicadas à população, os grandes consumidores seguem tendo seus preços diferenciados. Juntos, os 500 grandes consumidores utilizam, em média, 1,9 bilhão de litros de água por mês. O consumo médio mensal em toda a cidade, com 11,9 milhões de habitantes, foi de 154,5 bilhões de litros em junho de 2014.

Apenas a obrigação de consumir, pelo menos, 500 mil litros por mês foi suspensa pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), em março do ano passado, dois meses após ele reconhecer publicamente a crise.

A líder da lista divulgada é a Viscofan, empresa que fabrica tripas de celulose para embutidos, como salsichas. A empresa consome 60 milhões de litros de água por mês – ou 60 mil metros cúbicos (m³).

Instalada na capital paulista, a Viscofan paga apenas R$ 3,41 por cada mil litros de água consumidos. Porém, as empresas com contratos convencionais do município pagam R$ 13,97 para a mesma quantidade. Já o consumidor residencial normal paga de R$ 1,79 por mil litros a R$ 5,85, dependendo da faixa de consumo.

O consumo da Viscofan seria suficiente para abastecer o município de São Caetano do Sul, com 150 mil habitantes, por quase cinco meses. A cidade consome 14 milhões de litros por mês.

Outros destaques da lista são a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que consome 12 milhões de litros de água por mês, e o Shopping Pátio Higienópolis, que consome 10 milhões.

A lista dos 294 grandes consumidores de água pode ser consultada na página do El País. O documento, no entanto, lista somente os grandes consumidores que iniciaram o contrato a partir de 2010. A Agência Pública já solicitou a relação completa por meio da Lei de Acesso a Informação em duas oportunidades e a Sabesp negou. No dia 27 de janeiro, a Corregedoria Geral da Administração considerou ilegal a negativa da Sabesp e determinou a abertura dos contratos em até 30 dias. (RBA)

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