Infelizmente, a maioria dos brasileiros parece acreditar que o exercício da democracia se dá apenas durante o período eleitoral, que é moldado por uma legislação ultrapassada, fazendo com que o nível de politizacão permaneça extremamente raso e embasado por clichês. Exemplos históricos, como a nebulosa conversão à Nova República entre Figueiredo e Sarney, indicam que uma reforma profunda raramente é provocada apenas pela necessidade evidente de mudanças, mas em maior parte porque os governantes aceitam fazer concessões para poder conservar certa influência sobre a transição. Ademais, no momento mais propício a realização dessas permutas, o novo parece ser também o suficiente. Não precisa ser bom, basta ser diferente, afinal, em 1987/88, depois de duas décadas, um presidente civil e uma constituinte foram o bastante para converter, com grande ajuda da imprensa, um plano de poder formulado principalmente pelo PMDB e PFL numa sublime revolução democrática.
Eis que chega 2015. Quase trinta anos depois, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Helder Barbalho, Kátia Abreu e outros filantropos terão dez minutos para demonstrar que, mais uma vez, o partido será o responsável pela guinada que nos afastará da crise. O timing não poderia ser melhor, haja vista o cenário apocalíptico previsto por divindades oniscientes como Merval Pereira e Olavo de Carvalho. Vista com desconfiança nas duas últimas eleições, Marina Silva teve o óbvio como única estratégia: se apresentar como alternativa a velha polarização. Os resultados e outras pesquisas de opinião mais atualizadas realmente dão respaldo a uma “terceira via”, algo que deve ser mais explorado pelo PMDB graças ao melancólico isolamento em que se encontra o PT. Pessoalmente, sou indiferente a qualquer sentimento patriótico ou nacionalista, mas há quem diga que o brasileiro só fica assim durante grandes competições esportivas. Pois bem, parece que somos uma democracia igualmente dispersa, engajada apenas de dois em dois anos. A história se repete, e o que devemos ver dia 26 é o novo, de novo. (Pedro Santa Helena)