É preciso vir um francês para fazer com que brasileiro enxergue a situação do país, que continuar sendo um dos mais desiguais do mundo. Thomas Piketty, economista e autor de O Capital no Século XXI, disse em passagem ao Brasil que o sistema de tributos do mundo privilegia os ricos, mas o Brasil é destaque no quesito isenção dos ricos.
A taxação de renda na França, por exemplo, pode chegar a 75% para quem recebe mais de 1 milhão de euros por ano. No Brasil, a maior faixa do IR cobra 27,5%. Assim, o grosso da classe média brasileira paga a mesma quantidade de imposto que os muito ricos.
Com a arrecadação concentrada no consumo, pobres e classe média é que sustentam a arrecadação do Estado brasileiro.
Mas só isso ainda não basta para melhorar a situação. O caso estadunidense chama atenção. O país sempre ficou no patamar de 33% da renda total entregue aos 10% mais ricos entre as décadas de 50 e 80. A partir daí, então, ela disparou até chegar aos 50% em 2012, descolando-se das taxas europeias e se aproximando da brasileira.
Em uma palestra ministrada dia 28 de novembro no campus de São Bernardo da Universidade Federal do ABC (UFABC), Piketty afirmou que seu livro, O Capital do Século XXI, consegue, com um número de dados muito maior, jogar uma nova luz sobre o debate da desigualdade de renda.
Na obra, Piketty analisa dados de 20 países desde quando começaram a cobrar taxas sobre a renda.A conclusão que se chega é que a parcela mais rica da população concentrou ainda mais renda nas últimas décadas.“Ao contrário do que todos achavam que iria acontecer com a desigualdade após a Segunda Guerra, ela aumentou ainda mais”, explicou.
Desde o início do governo Lula em 2002, o Brasil se orgulha de ser um dos países que mais teve sucesso no combate à pobreza e à concentração de renda. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a riqueza concentrada na mão dos 10% mais ricos no país caiu de 50% para 45% entre 2007 e 2013.
No último ano do primeiro mandato de Dilma, porém, a noticia não foi boa. De acordo com o índice do Gini, divulgado no último mês de setembro e que mede a desigualdade de renda, ela se manteve estável entre 2012 e 2013 pela primeira vez desde 2001.
O IPEA também confirmou, pela primeira vez desde 2003, que o número de miseráveis cresceu no país. Em 2012 eram de 10,08 milhões enquanto que no ano passado ele subiu para 10,42 milhões.
O Brasil não está na lista dos 20 países em que há dados confiáveis, de acordo com o livro de Piketty. Ele criticou a falta de transparência da Receita Federal nos dados sobre o Imposto de Renda e o método de fazer pesquisas domiciliares, como faz a PNAD, para chegar a conclusões sobre a concentração de renda.
“Se pegarmos as informações fiscais a que tivemos acesso, os números são bem maiores. Falta transparência da Receita Federal. Se você for levar em conta só as informações da PNAD, acaba olhando só para a renda do trabalho, virando as costas para a renda dos mais ricos, que estão concentradas em imóveis e ações”, explicou. (Com informações do Brasil de Fato)