O professor da Unicamp Antônio Carlos Zuffo, especialista em recursos hídricos, alerta que a engenharia já esgotou sua capacidade de solucionar a crise de abastecimento de água que atinge o estado de São Paulo, e que só resta aos paulistas apelar para a espiritualidade.
“Se não ocorrer chuva, a solução que nós temos no curtíssimo prazo é voltar a fazer novena e procissão pedindo chuva porque a engenharia não dispões mais de meios.”
O nível do reservatório Cantareira, que abastece grande parte da capital, Campinas e região, bateu novo recorde negativo na quinta-feira (8), e chegou a 5,3% de sua capacidade total.
Zufo, ouvido pela TVT, aponta que o estoque de água do Cantareira é alarmante, e que, pelos seus cálculos, o reservatório do chamado volume morto vai secar por volta dos dias 13 ou 14 de novembro. Ainda segundo o professor, as obras anunciadas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) como forma de solucionar o problema trarão soluções efetivas apenas daqui a quatro ou cinco anos.
De acordo com o MPE, a Sabesp já conhecia o risco da estiagem que afeta o abastecimento desde 2012, pois, em relatório à bolsa de Nova York, reconhece o risco de uma estiagem como a atual.
Sobre os riscos para a saúde da população, Antônio Carlos Zuffo acredita que “se diminuir a disponibilidade hídrica para a população, é claro que vai haver aumento de problemas de saúde, principalmente doenças gastrointestinais”.
Além da própria falta de água para consumo humano, a crise no abastecimento, criada a partir da falta de planejamento do governo estadual, poderá causar graves problemas em outros setores.
Segundo Zuffo, as consequências do desabastecimento devem atingir também a atividade econômica em curto prazo. “Primeiro, com a paralisação da produção industrial, seguida por desabastecimento de produtos nas prateleiras e demissões nas fábricas, causando portanto um problema social. E com o desemprego vem a violência, que nós já conhecemos”, prevê o professor.
Ele finaliza lembrando que faltou ao governo do estado atentar para os muitos sinais de que a atual crise já havia sido prevista, inclusive pela própria Sabesp, que em 2012 alertou a seus acionistas, em Nova York, que a situação caminhava para a escassez de recursos.
“A renovação da outorga de captação de água do sistema Cantareira, em 2004 – a resolução conjunta entre a Agência Nacional de Águas e o Departamento de Águas e Energia Elétrica, órgão estadual – previa uma curva de aversão ao risco, que permitiria controlar a quantidade de água a ser retirada do sistema. Se esse alerta de risco tivesse sido obedecido nós não estaríamos nesta situação hoje”, conclui. (Rede Brasil Atual)