O trem Cabrita, quem imaginaria essa expressão hoje? Mas, ela existe e se encontra em um livro muito delicado, escrito por um artista de Campinas, Edgar Rizzo.
A penúltima vez que vi Edgar, foi no Teatro Castro Mendes, em 2013, quando levei meus alunos adolescentes para assistirem à peça Carlito Maia – do Sagrado ao Profano, dirigida por ele.
A peça foi um sucesso, bem escrita, bem montada, trabalho impecável, raro em nossa cidade. Fiquei admirada com a sensibilidade artística do Edgar. Já conhecia outras montagens suas, mas percebi que nessa peça ele avançara em termos de maturidade filosófica e estilo.
Meus alunos, de escola pública, nada habituados às produções culturais da cidade, se encantaram com a apresentação, o que me fez pensar, mais uma vez, que a arte não é elitista e, sim, o acesso a ela.
Na saída do teatro, pedi ao diretor para posar para fotos junto aos jovens, o que ele fez com muito carinho. Em seguida, perguntei-lhe se daria uma entrevista por escrito aos alunos. Ele achou uma ótima ideia.
A entrevista está publicada no jornal da escola.
Edgar e eu combinamos também de trocarmos livros e ideias sobre arte. Mas, uns dois meses depois de nosso encontro, eu o procurei via email e facebook e não obtive resposta.
Insisti um pouco mais até que recebi uma mensagem, muito sucinta, em que ele informava estar se recuperando de um AVC, que mal podia escrever e falar.
Fiquei muito triste e marquei de ir visitá-lo assim que ele estivesse em condições de me receber, o que não demorou a acontecer.
Foi nessa visita que trocamos livros, eu lhe dei os meus, e ele me deu os dele. Dos dois que recebi, um, talvez o mais singelo, me surpreendeu pelo lirismo autêntico, pela sabedoria nele contida. O título do livro é: Fragmentos do Dia, Histórias Egidienses.
Pois bem, leitor, se você é um amante da nossa região, não pode prescindir de conhecer essa pérola de livro que conta sobre a formação do Distrito de Joaquim Egídio, desde que uma grande sesmaria foi concedida a Antonio Raposo Cunha Leme, em 1732, em área próxima ao Rio Jaguari, na província de São Paulo.
Em linguagem poética, Edgar Rizzo nos dá de presente uma obra de grande valor histórico e artístico, despretensiosa, lúdica. Eu até indicaria este livro para alunos do Ensino Fundamental e Médio, devido à linguagem acessível, mas de qualidade literária inquestionável. E, claro, para toda pessoa que aprecia o lirismo das histórias do povo, das personagens anônimas que compõem as raízes da nossa cultura.
Para terminar, cito mais uma passagem de Fragmentos do Dia:
Nessa época a Fazenda Sertão foi adquirida por Joaquim Egídio de Sousa Aranha, neto do Marquês de Três Rios, ardoroso defensor do fim da escravatura. A ele se deve o nome do lugar. Foi ele também que doou o terreno para a construção da Estação do Ramal Férreo Campineiro, inaugurado em 1894, cujo trem denominado carinhosamente de Cabrita chegava até a Fazenda das Cabras, fazendo o transporte do café e outros produtos agrícolas até a estação da Paulista. Com a crise de 1929, o trem foi desativado e a estrada foi ocupada por um bonde urbano.
Fragmentos do Dia, Edgar Rizzo, Komedi, 2009
Patrocínio: FICC – Fundo de Investimento à Cultura de Campinas