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Alunos deixam de usar biblioteca da escola com o avanço das séries

O uso das bibliotecas nas escolas cai conforme os alunos avançam de série, de acordo com dados da Prova Brasil 2011, que são os últimos disponíveis. Os registros da prova mostram que 57,4% dos alunos do 5º ano do ensino fundamental da rede pública utilizaram as bibliotecas e salas de leitura sempre ou quase sempre. Entre os alunos do 9º ano, esse percentual caiu para 29,9%.

Os dados foram disponibilizados pelo movimento Todos pela Educação, e podem ser acessados no site do Observatório do PNE [Plano Nacional de Educação]. Foram levados em consideração os questionários aplicados em escolas que ofereciam bibliotecas e salas de leitura à época, equivalentes a 37,9% dos 156.164 estabelecimentos públicos de ensino básico.

Os dados mostram também que entre os alunos do 5º ano, 24,1%, frequentavam esses espaços de vez em quando, e 18,5% o faziam nunca, ou quase nunca. Entre os alunos do 9º ano, esses percentuais aumentaram, respectivamente, para 35% e 35,1%.

“Infelizmente, a gente conclui, com esses dados, que o incentivo à leitura vai caindo ao longo dos anos, e isso é muito ruim”, diz o gerente de Conteúdo do movimento Todos pela Educação e um dos coordenadores do Observatório do PNE, Ricardo Falzetta. Os motivos para essa redução variam, segundo ele, a começar pela falta de espaços de leitura adequados, carência de acervo diversificado e ausência de profissionais qualificados para atender os alunos.

O levantamento mostra que 83,9% das bibliotecas e salas de leitura das escolas consideradas no levantamento tinham acervo diversificado, 14,2% tinham brinquedoteca, havia espaços para estudo coletivo em 56,4% delas e 75,8% dos espaços estavam instalados em lugares arejados e bem iluminados. Além disso, 78% das bibliotecas ou salas de leitura contavam com profissional responsável pelo atendimento aos alunos.

Outro fator apontado por Falzetta é o grande volume de conteúdo passado aos alunos dos anos finais do ensino fundamental e médio. “A questão do currículo, o volume de informações e pontos a serem cumpridos são meio absurdos, é uma quantidade muito grande, falta tempo para fazer uma leitura literária que, de fato, precisa de tempo”, segundo ele.

Estudante do 9º ano, Nathália, de 14 anos, é uma das que sofrem com a falta de tempo. “Eu gosto muito de ler. Quando era menor, lia mais. Hoje tenho mais deveres, mais cursos”, diz. Nathália é aluna do Centro de Ensino Fundamental Cerâmica São Paulo, em São Sebastião, no Distrito Federal, que dispõe de biblioteca e tem um projeto para incentivar o uso do espaço.

A escola tinha uma espécie de depósito de livros, que em 2011 foi reformado. Segundo o vice-diretor, Pedro Romildo Pinheiro, os professores levam os alunos para a biblioteca e sugerem livros. Tanto os estudantes quanto a comunidade podem fazer cadastro no local e alugar as obras. “Percebo uma queda de leitura, mesmo com o incentivo. Os alunos do 6º ano leem mais que os do 9º. Isso vai diminuindo porque aparecem outros incentivos, como celulares, internet, TV, que afastam os alunos dos livros”, acredita o vice-diretor.

A diretora de Educação e Cultura da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Ecofuturo, Christine Fontelles, explica que em um primeiro momento de promoção da leitura nas escolas a criança tem contato com textos literários e, pouco a pouco, isso vai se perdendo quando chega aos anos finais do ensino fundamental – 6º ao 9º ano – e no ensino médio, quando se passa a oferecer ao jovem uma leitura funcional, de modo a que a literatura é pouca e sempre atrelada a tarefas.

Christine ressalta que a leitura é necessária para auxiliar na construção de pensamentos, na inovação e expansão de vocabulário. Segundo ela, a ausência de bibliotecas e espaços de leitura na maior parte das escolas públicas é preocupante, até mesmo porque, segundo o Instituto Pró-Livro, 64% das pessoas que vão a bibliotecas frequentam bibliotecas escolares. Nas escolas em que há esses espaços, há problemas de uso. “Há uma ausência de consciência de que é preciso educar para a leitura”, acrescenta.

O Plano Nacional de Educação estabelece a biblioteca como um dos itens de infraestrutura adequada que devem existir em todas as escolas públicas de educação básica até o fim da vigência da lei, que é de dez anos. Além disso, em 2010 foi aprovada a Lei 12.244, que estabelece a obrigatoriedade de pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino, tanto de redes públicas como privadas.

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia ligada ao Ministério da Educação, diz que o Programa Nacional Biblioteca da Escola oferece livros voltados para cada etapa de ensino a todas as escolas públicas. “O objetivo é oferecer livros de qualidade”, explica Sonia Schwartz, do FNDE. Segundo ela, os livros chegam inclusive onde não há bibliotecas ou salas de leitura. Em 2013, quando foi feita a compra para os anos finais do ensino fundamental, foram adquiridos 10,2 milhões de exemplares por R$ 74 milhões, e os livros distribuídos ao longo do ano para as escolas, em todo o país.(Agência Brasil)

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