Pelo menos nos últimos 80 anos, o Brasil teve a chance de melhorar a condição de seu povo, mas a elite que comandou o país neste século preferiu deixar a população à míngua como ratos e entulhada em favelas nos morros e nas periferias. Ali, o Estado não chegava (hoje dificilmente chega), tornando impossível construir uma nação com um povo melhor preparado social e culturalmente. Isolados e excluídos do processo econômico restou o quê?
A elite, para que não fique um termo vago, são todas as pessoas com certo poder social, seja na política, no judiciário, nas grandes empresas, profissionais liberais etc, que formam uma cultura política que se manifesta nas ações do Estado e no discurso social. O caderno ideológico dessa elite é hoje bem representado pela revista Veja, da editora Abril, que ainda mantém o ranço e a virulência discursiva para manter a desigualdade social e econômica.
Essa ocupação dos recursos do Estado apenas para beneficiar a elite nessas décadas todas fez prosperar uma população sem esperança de ascensão social que, em meio à miséria, se ligou a duas alternativas para sair daquela situação: o tráfico de drogas e a teologia da prosperidade.
O tráfico se tornou uma alternativa real e rápida de ascensão social para um grande número de jovens que não se encaixavam nos padrões de submissão incondicional e miserável imposta pela elite. Apesar do risco, parecia valer a pena essa ascensão social que, com o tempo, ganhou respaldo da própria população das regiões pobres e abandonadas pelo estado.
Mas nem todos optam pelo risco do tráfico. Para aqueles que estavam diante de uma situação degradante imposta pelas elites, mas não se submetiam ao crime organizado, emerge a teologia da prosperidade. Ali, surge não uma ascensão social rápida e imediata como no tráfico de drogas, mas uma fé na prosperidade que trouxe junto, em muito casos, uma moral de intolerância e preconceito. É necessário se agarrar a ideias inegociáveis para suportar a realidade e ter força para acreditar no futuro melhor.
Hoje o Brasil se afunda nessas duas culturas: a guerra do tráfico e a intolerância machista e retrógrada de setores evangélicos (não todos obviamente) , mas principalmente aqueles que avançam no poder político em busca de um regime teocêntrico dos trópicos.