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Como as flechadas ferem?

Como as flechadas ferem?
Ouvi dizer que um policial foi atingido por uma flecha, lançada por um índio, durante a manifestação contra os jogos da copa do mundo de futebol, em Brasília, nessa terça-feira, 27/05/2014. …
 
… Considero normal, num país de terceiro mundo, que divide as ruas de suas grandes cidades com macacos, serpentes, jaguares e índios, que esse tipo de fato ocorra corriqueiramente. Aqui, há anos que nos modernizamos e urbanizamos totalmente nossas cidades. Debelamos quase que por completo a ameaça indígena e os que sobraram foram domesticados e são até que úteis economicamente, como atração turística. 
Samuel Winchester, Comerciante de Armas, 43,  New Olrean, USA.
 
… Achei que já não havia mais pau brasil, nem ouro, nem índios no Brasil . É mesmo surpreendente, pois para mim, só tinha político, jogador de futebol e as respectivas mães. Todos frutos da colonização exploratória e descendentes dos náufragos, traficantes e degredados que lá deixamos naquele período de aventuras ultramarinas. 
Joaquim de Sá Barbosa, Advogado, 43, Leiria, Portugal.
 
… Isso é simplesmente a falta de Deus no coração da sociedade. Não entendem que caminham direto para o fogo do inferno, com atitudes violentas que só trazem o diabo para perto de suas almas ignorantes. Têm é que ler mais a bíblia e aceitar Jesus antes que seja tarde demais! 
Iria Messias Batista, Bispa, 43, São Paulo, Brasil.
 
… É essa a imagem que querem passar do Brasil lá fora? Por quê não protestaram antes? Bando de idiotas não percebem que mostrar tumulto e confusão só vai afastar os turistas e os investimentos externos? Cadeia para os baderneiros, índios ou não! Paisinho de merda, povinho de merda, na primeira oportunidade me mudo daqui!
Eike Lemgrubber de Bragança, Empresário da Noite, 43, Rio de Janeiro, Brasil.
 
… É um legítimo direito da população a liberdade de expressão e de manifestação, mas o povo está sendo descaradamente manipulado por nossos adversários, que inflamam a população e plantam inverdades absurdas, sobre infundados desvios de verbas nas obras da copa. Dizer que a copa tira recursos de prioridades como saúde, segurança e educação é uma das maiores imbecilidades que já ouvi. Os números mostram que tais setores jamais receberam tanto investimento em toda a história desse país! É lamentável usarem o alegre povo brasileiro e o que devia ser uma maravilhosa festa popular, como um joguete político tão baixo e mentiroso!
Ribamar Rebelo, Deputado da Base Aliada, 43, Brasília, Brasil 
 
… Ao que parece, o Brasil colhe hoje, os frutos de um sistema político falido, historicamente calcado na exploração e na manutenção de uma força de trabalho pouco preparada, pouco educada, desinformada e orientada a competir entre si e que se transformou no combustível mantenedor dos privilégios e regalias das oligarquias, que, há séculos, se apoiam no tráfico de influências, na falta de transparência e na manipulação das informações . A velocidade de comunicação, hoje promovida pelas redes sociais, expõe gradativamente as entranhas podres de um poder viciado em gerar desigualdade. A indignação crescente de uma população ignorante, competitiva e privada de esclarecimentos, traz motivações conflitantes e reações extremas, mas não inesperadas.  
Kate Losshards Mirror, Historiadora e Analista Política, 43, Neutral, Kansas, USA.
 
… Se deixarmos que nosso Brasil seja comandado por estas mãos vermelhas, terroristas, sujas de sangue, jamais galgaremos o posto de maior nação desse planeta, que a nós está reservado. Temos que cortar pela raiz a influência malévola dessa presidenta inescrupulosa e de seu partido sedento de poder. Temos que recolocar o Brasil nos trilhos da democracia! O alegre povo brasileiro não merece mais ser enganado em um joguete político tão baixo e mentiroso! Os números mostram que nossa situação nunca esteve tão calamitosa! Não mais deixemos que uma maravilhosa festa popular possa gerar manchetes tão degradantes como a acima citada!  Vamos nos dar as mãos em prol da mudança e da justiça e contra a desigualdade, que é a única coisa que essa senhora e seu partido sabem plantar!!
José Rebelo de Ribamar, Senador, Líder da Oposição e da Bancada Ruralista, 43, Brasília, Brasil.
 
… Odeio futebol e acho que é a maior fonte de alienação do brasileiro. Pra mim isso é tudo uma jogada pra beneficiar meia dúzia de bacanas e manter o povão feliz. O próprio jornal nacional diz que o Brasil devia investir mesmo era nas olimpíadas, que dão muito mais retorno, mas agora que tá feito, não adianta reclamar. Quanto ao índio, cadeia, claro, onde vai ficar a autoridade policial se a coisa descambar? Lamentável!
Marcela Carla da Luz, Universitária, 43, Londrina, Brasil.
 
… Não tenho opinião formada pois não gosto de política. Acho que moral e honestidade em primeiro lugar! Enquanto o povo não aprender a votar vamos ficar nas mãos de bandidos. Confio muito mais nos bichos do que nas pessoas, porque os bichos não pedem nada em troca e não fazem o mal uns aos outros. O índio merece mesmo é levar uma coça pra aprender a ficar no lugar dele. Mas aí vem os direitos humanos e defendem um filha da puta desses! E os direitos humanos para a polícia? 
Eduardo Lunarti, Corretor de Imóveis, 43, Campinas, Brasil.
 
… Nada é tão pernicioso como a manutenção dessa estrutura caótica implantada em nosso país por este partido, no poder há 12 anos! Hoje é um policial, amanhã serão nossas crianças! E a presidenta só se preocupa em pilhar e falir o estado brasileiro bem nas barbas do povo! Vamos voltar de novo para o novo! Vamos buscar o que já deu certo! Vamos ser o povo feliz que merecemos ser! Vamos dar escolas, hospitais e segurança para essa população tão sofrida! Não à política do pão e circo! Vamos alimentar o corpo e a alma de nossos cidadãos e trilhar o caminho do progresso de uma vez por todas! E para isso, eu preciso de vocês! E estejam certos, vocês precisam de mim!
Malécio Levis, Pré-Candidato da Oposição à Presidência, 43, Brasília, MG, Brasil. 
 
 Primeiro invadiram nossa terra, nos iludiram com falsas preciosidades, nos viciaram em seus vícios e nos contaminaram com seus vírus, aí dizimaram nosso povo, nos impuseram sua cultura, nos enfiaram seu Deus, destruíram  nossa casa, mataram nossos bichos e nos transformaram num problema social. Continuam se utilizando do mesmo método para nos manter dominados, assim como a seu próprio povo. Talvez tenham nos transformado em mais do seu próprio povo. Eles podem usar sua força para nos controlar, coibir e matar, mas é um crime quando nós reagimos. Nossa vida tem sido muito mais triste desde que eles chegaram. Tiraram o bem maior que possuíamos, a liberdade, e é isso que fazem também com seu povo. Acho que uma flechada na perna foi apenas simbólico.
Ailton Ivair Bororo, Lider Indígena Bororo, 43, Tandarimana, MT, Brasil. 
 
… Não é sem motivo que cada um de nós perceba o mesmo fato de maneiras diversas. Formas de pensar diferentes das nossas, podem nos parecer arrogantes, discriminatórias, ingênuas, contraproducentes e até idiotas. É que somos pessoas diferentes e sofremos influências diferentes durante as várias etapas de nossas vidas. O que me parece infrutífero, desnecessário e desagregador é ímpeto que temos de convencer os outros de que a nossa verdade é a correta. Minha verdade só é correta para quem sofreu as influências que eu sofri. Na vã tentativa de criar um pensamento único, temos nos odiado cada vez mais e nos afastado de qualquer tipo de consenso. Ideias contrárias não precisam representar confronto. Vivemos há séculos no inócuo combate às opiniões contrárias e apesar disso as opiniões contrárias persistem e persistirão sempre. Creio que o tempo que gastamos agregando inimigos e opositores, tentando forçar o convencimento e julgando o que não nos cabe julgar, seria mais bem gasto se nos focássemos no aprimoramento de nossas próprias ideias e em agir da maneira que acreditamos ser a adequada, independente de como ajam ou pensem as outras pessoas. De minha parte, respeitarei as opiniões conflitantes com as minhas, deixarei que elas existam e tentarei extrair alguma positividade de todas elas. Evitarei de, comodamente, escolher um vilão, satanizá-lo como único responsável por todo o mal, atirar pedras nele e então colocar outro vilão em seu lugar para que outros atirem as pedras em meu lugar. Me darei ao direito de considerar essas manifestações, em geral, com justas e legítimas tentativas de um povo insatisfeito, demonstrar seu descontentamento, se articular, tomar ciência da sua força e buscar por mudanças, mesmo que haja outros interesses escondidos. De minha parte, me darei ao direito de não me sentir seguro perto de policiais, apesar de acreditar que existam policiais honestos e justos. Na minha opinião, a polícia, há muito deixou de representar segurança e se transformou no braço armado e truculento do sistema que nos acorrenta. De minha parte, apesar de acreditar que possam existir pessoas honestas e justas na política, me darei ao direito de não confiar mais na classe política, que se protege e distancia de nós sob o manto das regalias, privilégios e imunidades. É natural que eles, que jogam o jogo com outras regras e vivem com outra ética, passem a nos enxergar como posses suas, como úteis eleitores enganados, como bestas carregadoras de peso, como seus inferiores, e não era para ser assim. São peixes grandes sendo sevados por tubarões maiores ainda. São pessoas que não cogitam a hipótese de se igualarem a nós e que fazem e sempre farão de tudo para se manterem confortavelmente acima. De minha parte, também não quero me igualar a eles. São, ou acabam se transformando, em demagogos e hipócritas, usando mesmo discurso de sempre para enganar os ingênuos em que nos transformamos. De minha parte, não me curvarei a leis criadas por eles, que eu entenda como tendenciosas  e alienantes. Confiarei na minha capacidade de julgar as coisas da minha vida. Lutarei ao meu modo, continuamente, para expor, para mim e a quem mais queira enxergar, a face e as curvas desse sistema cheio de segredos. Me aproximarei de pessoas com ideais parecidos com os meus, contrárias à violência, buscadoras da liberdade, esperançosas na humanidade, indignadas com a inércia, ansiosas pela mudança e tolerantes com as diferenças. Essas pessoas existem e não são poucas. Buscarei a minha paz e procurarei estar perto da paz de outras pessoas. Serei avesso à violência, mas procurarei entender seus motivos históricos e tolerarei a existência dela, até que quem sabe, um dia ela mingue. Não aprovo a flechada, mas vejo nela, dentro desse contexto, muito mais beleza e menos violência, do que nas balas de borracha, nos gases lacrimogêneos, nos cassetetes, nas torturas, nas balas perdidas, nas mortes em corredores de hospitais, no preconceito, na intolerância e na perpetuação da mentira. 
Fernando Ruiz, Médico Veterinário, 43, Franca, Brasil.
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