A razão, conceito filosófico, é algo totalmente abstrato como sabemos. A razão é uma ideia que sofreu enormes transformações ao longo do pensamento humano.
Diz-se que razão é a capacidade da mente humana de chegar a conclusões a partir de suposições ou premissas. Mas o instinto não faz isso naturalmente? Quando um animal caça, ele não estabelece premissas de ataque em busca de uma conclusão, saciar a fome?
Quando um animal joga uma banana em campo para provocar um jogador negro durante uma partida de futebol ele também não está usando a razão, em busca de um sentido para sua agressividade? A violência é racional? Os métodos de tortura da ditadura brasileira poderiam ser considerados métodos racionais, visto que se baseavam em premissas racionais de uso de equipamentos em busca de confissões?
Na realidade, razão e irracionalidade trazem a velha discussão do que nasceu primeiro, o ovo ou a galinha. O filósofo Newton Bernardes já demonstrou que essas divisões semânticas e conceituais distorcem nossa capacidade de análise, porque estabelecemos conceitos estanques, separados, quando, na verdade, são uma coisa só.
A banana em um campo de futebol, os outdoors que promovem o holocausto indígena no século 21, os fascistas obcecados com o discurso anti-corrupção, as mentiras e calúnias contra políticos na internet, o assassinato de mulheres pelos maridos e tantos outros fatos da vida contemporânea não deixam de ser a prova de nossa ancestralidade irracional.
Na realidade, somos todos macacos. Não para lucrar com isso como fazem Luciano Hulk e os publicitários afoitos. Somos é sim filhos do macaco. Temos um Deus macaco. Darwin com certeza é o pensador que mais perturbou e que mais vai perturbar a humanidade. Darwin renasce a cada dia, em cada violência, em cada ofensa, em cada injustiça, em cada discurso dos representantes de deus. Darwin está ali, naquela banana dentro do campo.
Aqueles que falam em nome da perfeição da razão humana carregam nas costas o peso das maiores violências cometidas na humanidade.
No entanto, não é negando a razão que se supera os obstáculos da intolerância, da violência e da estupidez humana. História nos ensina de forma trágica a não abandonar o caminho racional. É o caminho a ser buscado pelo ser humano. Assim como pedagogo Paulo Freire nos define como incompletos e inacabados no aprendizado, também somos vítimas de uma racionalidade incompleta e inacabada em essência.
Somos um pouco macacos, somos infrarracionais, o que fazer? Justificar a violência e a ira, ou seja, justificar a irracionalidade como natureza humana ou tomar nossos limites e reconhecer os erros para sermos mais racionais possíveis?