A Polícia Militar do Rio de Janeiro, Minas Gerais e de São Paulo, assim como de outros estados, vai continuar matando pessoas inocentes e mesmo pessoas que tenham algum problema com a justiça.
E não adianta punir o soldado que apertou o gatilho porque amanhã outro soldado vai matar e assim sucessivamente como aconteceu com Amarildo, Cláudia Silva Ferreira (a mulher que foi arrastada), o dançarino DG, Douglas Rafael da Silva Pereira, o professor Silmar Júnior Madeira, morto em Itamonte (MG) e tantos outros que não ganham repercussão midiática.
A Polícia Militar está em duas guerras: uma contra o tráfico e e outra para manter a desigualdade brasileira. Que sentido faz condenar um soldado que comete um assassinato em uma guerra? A Polícia e o Exército já usam armamentos pesados e até tanques para atuar no front das periferias brasileiras. Veja que é quase sempre na periferia que se estabelecem os fronts da guerra civil brasileira. Ser policial no Brasil hoje é ser convocado para a guerra. Passe em frente a prédios militares e veja as barricadas de cones para evitar ataques.
A polícia no Brasil atua basicamente em dois tipos de confronto: contra as organizações de traficantes e contra população pobre da periferia, principalmente em reintegrações de posse das imaculadas propriedades privadas de grandes empresas e que servem à especulação imobiliária.
É uma guerra civil que tem dois objetivos primordiais: manter (com toda a violência possível) o sistema de desigualdade e combater o tráfico de drogas. O primeiro objetivo tem dado certo, graças ao poder judiciário que inviabiliza qualquer política de compensação e transferência de renda. E, por isso, o segundo objetivo tem resultados frustrantes. A desigualdade continua, mas ela só aumenta o tráfico e a violência.
Todos querem que o policial que matou um inocente seja punido, isso alenta parentes e amigos da vítima, mas na semana seguinte a mesma violência se repete com um novo inocente morto e um novo policial acusado.
Não adianta punir o policial porque esses assassinatos são necessários para manter a desigualdade nos níveis atuais. A guerra não vai terminar enquanto a sociedade civil e o Estado (principalmente o poder judiciário ) não enfrentarem a desigualdade.
A desigualdade, que foi mantida durante 21 anos pela tortura e pelas armas de grosso calibre da ditadura civil-militar, hoje sente a exposição de um sistema mais democrático. Mas a desigualdade continua impune, está apenas mais visível.