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Em 250 fotos, livro lançado pela Unicamp percorre a história e contradições de Campinas

Largo do Rosário, início dos anos 1960 (foto: reprodução/conjunto aristides pedro da silva/CMU)

Livro digital lançado pelo Centro de Memória da Unicamp (CMU) conta, por meio de fotografias, os 250 anos de Campinas, completados no último domingo (14). O acervo mostra uma cidade em construção, com o surgimento de praças e vias, o transporte ainda feito por veículos com tração animal, e acompanha o desenvolvimento desde as fazendas de café que movimentaram a economia da cidade em séculos passados à industrialização. Organizado por Ana Cláudia Ceraria Berto, “Campinas 250 Anos, 250 Fotos” está disponível on-line.

A publicação reúne registros preservados pelo CMU, datados desde 1870, e provoca diversos olhares sobre como se constituiu uma das maiores metrópoles do país. Ao mesmo tempo que exalta os avanços das elites, com seus palacetes, teatro e outros equipamentos urbanos simbólicos, mostra como os interesses imobiliários colocaram no chão essas mesmas memórias do apogeu de aristocratas, os barões do café, e da burguesia emergente.

Lógica capitalista e opressão

Da mesma forma, apesar da predominância da documentação fotográfica de grupos sociais dominantes, suas conquistas e estética, o conjunto de imagens acaba por colocar em evidência e despertar também para o apagamento de parcela da população, que aparece de forma coadjuvante na paisagem urbana.

“As imagens são um convite à reflexão sobre as dinâmicas sociopolíticas que moldaram, e continuam a moldar, as grandes cidades brasileiras com espacialidades e visualidades permeadas pelas contradições e opressões inerentes à lógica capitalista que rege as relações sociais”, afirma a professora doutora Sônia Fardin, curadora e pesquisadora independente, em trecho do livro.

Os trabalhadores e a população das classes populares, destaca, aparecem quase sempre fora de foco, em atividades cotidianas, andando pelas ruas, em procissões, trabalhando nas fábricas, na área rural, na construção e manutenção da cidade em espaços a que na maioria das vezes não tiveram acesso. “Assim também estão nas imagens, quase sem figuras humanas, de vilas, becos e bairros periféricos, por vezes fotografados como parte do controle social que a eles submetem os poderes oficiais, na condição de alvo de ações de ordenamento de vias públicas”, escreve.

Representação em disputa

Há exceções, pontua a pesquisadora, exemplos de resistência, como as imagens de um grupo de ativistas na Trezes de Maio nos anos 1940, a inauguração do monumento à Mãe Preta, na década de 1980, e a cerimônia da lavagem das escadarias da Catedral, em 1995. “Essa fotografia, realizada por Aristides Pedro da Silva – V8, documenta que, a partir das últimas décadas do século XX, a paisagem e a autorrepresentação visual passaram a ser disputadas por indivíduos e coletivos de matriz africana que tomaram para si a tarefa de ocupar espaços públicos não mais na condição de corpos sem história, mas como sujeitos que produzem cultura e realizam seus próprios registros visuais”, analisa no texto.

Além das imagens de V8 – que deixou um legado de 5 mil fotografias suas e de fotógrafos que registraram a Campinas do final do século 19 -, o livro reúne fotos de Ferdinando Panattoni, Gilberto di Biasi, José Gomes Guarnieri e Antônio Tossini, cartões-postais de Antônio Miranda e acervo cedido por famílias e instituições

O livro traz ainda algumas curiosidades históricas, como a polêmica em relação à data de comemoração do aniversário da cidade. Atualmente, esse marco é celebrado em 14 de julho. Neste dia, em 1774, teria sido celebrada a primeira missa no então povoado. Antes, a data de fundação era considerada 13 de setembro de 1739, lembrando a chegada de Barreto Leme.

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