O grande poder das organizações de trabalhadores (sejam sindicatos, associações etc) está na capacidade de mobilização das pessoas, mas essa capacidade não é utilizada na sua capacidade máxima, nem na sua forma mais revolucionária.

(imagem reprod. capa germinal)

As melhores organizações, as que são mais combativas e defensoras dos direitos dos trabalhadores, dependem dessa capacidade de mobilização para as conquistas de classe. Essas organizações combativas utilizam essa capacidade de mobilização em momentos de perdas de direitos, em greves, protestos, em eleições internas etc. Essas mobilizações acontecem sempre num processo de defensiva, para não perder direitos ou para conquistar um avanço diante de um situação ruim. Mas essa capacidade de mobilização não pode estar limitada a essas situações.

E é isso que procuramos entender aqui nessa reflexão. Uma possibilidade de revolucionar a capacidade de mobilização para além da defensiva ação contra as retiradas de direitos ou para melhorar as condições de trabalho e salário.

Lideranças sérias e combativas podem acreditar que um sindicato atuante e mobilizador em defesa das condições de trabalho seja o que os donos dos modos de produção mais temem. Mas acredito que não. É certo que um sindicato atuante e forte incomoda. Mas não ameaça o controle dos modos de produção. Nesse sentido, para os donos dos modos de produção, a limitação das organizações dos trabalhadores nas questões de classe da prática cotidiana é confortável. Os donos dos modos de produção sempre estarão sobre o controle econômico e da mão de obra. Em um momento ou outro podem fazer o que querem, demitir, reduzir salário, alterar atividades etc porque controlam o processo de produção da mercadoria ou do serviço. Podem também sabotar o sindicato, financiar lideranças pelegas, tentar comprar lideranças etc.

Além disso, não basta ter essa capacidade de mobilização e recursos para aplicar totalmente no investimento de representantes políticos amarrados dentro das normas estabelecidas pelas democracias condicionadas pelo poder econômico. Isso também é importante, mas não basta. O problema talvez seja esse: usar toda a energia extra das mobilizações de classe para o investimento nas representações controladas das democracias burguesas.

O que queremos dizer aqui é que o poder de aglutinação e mobilização das organizações dos trabalhadores devem estar além dessa capacidade corporativa restrita. Não negar essa capacidade combativa, mantê-la, mas ir além.

A grande aposta revolucionária é as organizações usarem essa capacidade de união e mobilização para se apropriar de pequenas parcelas dos modos de produção, para estabelecer novos modelos de produção, dentro, no interior da estrutura capitalista. Esses são desafios gigantescos para lideranças formadas culturalmente em um processo histórico de solidificação e enrijecimento do conceito de consciência de classe. É preciso tornar esse conceito novamente mutante, dialético, contraditório e vivo.

Ou seja, o poder de mobilização dos trabalhadores não pode estar limitado a atuar contra os modos de produção, mas também por semear o germe de novos modos de produção.