Em São Paulo – Pode ser vista até o dia 24 de julho, no Instituto Tomie Ohtake, a exposição “Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu…

A exposição inédita de Anna Maria Maiolino ocupa, com cerca de 300 obras, todas as três grandes salas do andar superior do Instituto Tomie Ohtake, espaço só antes dedicado às individuais de Yayoi Kusama e Louise Bourgeois. O curador Paulo Miyada esteve nos últimos três anos ao lado de Maiolino para juntos desenharem a exposição, construída a partir de muitas horas de conversa que resultaram, além de um ensaio aprofundado do curador sobre a produção da artista, em maquetes que dispõem meticulosamente cada obra selecionada.

In-Out (Antropofagia), 1973/74
Super 8 transcrito em vídeo em 2000
Roteiro/Direção/Montagem: Anna Maria Maiolino; Fotografia: Sigmund Zehr; Música: 
Laura Clayton; Participação especial: João Eduardo Osório; Finalização: Paulo 
Humberto Moreira, Track Master Produções e Comércio Ltda.
8min 17s
Coleção da artista

A mostra antológica, uma vez que traz momentos, obras e acontecimentos significativos na “vida-obra” de Maiolino, como ela mesma nomeou, traz pinturas, desenhos, xilogravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, peças de áudio e instalações.  Segundo Miyada, Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu... (onomatopeia que pode ser assobio, chamado, flerte, pedido de silêncio, segredo, sinal) foi concebida como uma espiral que circula entre todas as fases e suportes da carreira da artista. A analogia com a espiral se refere à maneira de voltar e ir adiante ao invés de seguir uma cronologia linear. “Vai-se adiante para se reencontrar o princípio, consome-se energia para devolver as coisas ao que sempre foram”, destaca o curador.

Por um fio, da série Fotopoemação, 1976
Fotografia analógica em impressão analógica
73 x 120 cm
Coleção da artista
Foto: Regina Vater

Anna Maria Maiolino – psssiiiuuu... está dividia em três núcleos que ocupam respectivamente cada uma das três salas do Instituto Tomie Ohtake. Em ANNA, vida, biografia, desejo e multiplicidade convergem no corpo da obra da artista. O conjunto reúne gestos de uma mulher que pode ser uma ou muitas, que deseja e é desejada, que cuida, que desaparece e abruptamente emerge novamente. Sobrepondo múltiplos papéis – como filha, artista, mãe, cidadã, mulher, amante, escritora, latino-americana, europeia e imigrante -, Maiolino mapeou seus deslocamentos físico e psíquico durante a vida e construiu a compreensão de identidade como um constante fluxo que vai e vem entre um e o outro, entre o eu e a multidão. 

Já em Não Não Não, as obras confrontam totalitarismo, censura, repressão e desigualdade. Seu interesse político abrange desde a violência dos regimes ditatoriais da América Latina até a aparente normalização da pobreza e da fome numa escala global. Os focos centrais deste núcleo são a remontagem da celebrada obra Arroz e Feijão (1979), que incluirá a oferta de refeições para o público em algumas ativações; uma nova instalação chamada O amor se faz revolucionário, baseada em um projeto de 1992 que homenageava as corajosas mulheres que se organizaram para perseguir a verdade e a justiça depois de terem perdido seus filhos durante a ditadura militar argentina; e obras que remetem à exposição Aos Poucos, que Maiolino realizou em 1978 e Miyada identifica como uma importante mostra política realizada no Brasil e até hoje pouco discutida pela crítica.

Ecce Homo, 1967
Xilogravura
66 x 48 cm
Coleção da artista

Por sua vez, Ações Matéricas parte do encontro entre materialidades diversas e gestos atávicos identificados tanto ao trabalho do dia-a-dia quanto ao do nascimento da humanidade. Pressionar, moldar, cortar, agarrar, escorrer e rolar são algumas das ações básicas que Maiolino emprega enquanto lida com argila, tinta, vidro, concreto e outros materiais, resultando em uma prática visual e escultural fortemente ancorada na escala do corpo. A seção inclui obras feitas há mais de 50 anos ao lado de trabalhos recentes, compondo uma espécie de paisagem com múltiplas peças que se relacionam de modo táctil e visual. Neste núcleo pode-se apreender o grande caminho espiral criado pela exposição: voltar e ir adiante no tempo, linguagem e subjetividade.

O catálogo da exposição traz um extenso ensaio de Paulo Miyada, reproduções de todas as obras e ainda seleção inédita de escritos da artista ao lado de documentos, projetos, fotografias e esboços. Esses documentos reforçam a prerrogativa de gênero, maternidade, sexualidade, políticas migratórias e questões sociopolíticas como aspectos-chave de um trabalho que é completamente misturado com vida, mesmo quando sua aparência não é obviamente autobiográfica, nem predominantemente narrativa. De modo complementar à exposição, essa publicação oferecerá uma oportunidade única de considerar as implicações entre vida e obra de Anna Maria Maiolino.

Mais informações no SITE do Instituto Tomie Ohtake.

(Carta Campinas com informações de divulgação)