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As feridas abertas: ‘Ayrson Heráclito: Yorùbáiano’ reúne 63 obras do artista entre instalações, fotografias, vídeos e performances

Em São Paulo – Poderá ser vista até o dia 22 de agosto na Pinacoteca de São Paulo a exposição individual “Ayrson Heráclito: Yorùbáiano”, do artista Ayrson Heráclito. Originalmente concebida para o MAR – Museu de Arte do Rio em 2021, a versão paulistana de “Yorùbáiano” ocupa o quarto andar da Pinacoteca Estação e tem curadoria de Amanda Bonan, Ana Maria Maia e Marcelo Campos. 

Ayrson Heráclito. Yaô – Série Banhistas. Fotografia. 166 x 110 cm. Divulgação

Ayrson Heráclito traz à Pina Estação a força de mitologias africanas que aportaram no Brasil a partir da diáspora, do sequestro e da escravidão de diversos povos africanos, sobretudo a partir do século XIX. Na seleção de obras, o artista baiano articula culturas diversas, abarcando os mitos yorubanos ou nagôs e jejes, a um amálgama cultural único de saberes ancestrais, ensinamentos, lendas, ritos e visões de mundo distintos que fazem parte das matrizes religiosas e culturais do candomblé. Por intermédio dos trabalhos, o público pode conhecer as lendas, “ìtàns” e “orikis”, narrativas tradicionais que seguem presentes nas ruas, procissões, romances e enredos de escolas de samba brasileiras, tomando contato com um mundo sem pecado onde a natureza dos seres e dos bichos se complementa.

Ayrson Heráclito. Osún com Abebê e Ofá. 2020. Fotografia. 122 x 122 cm. Divulgação

Dividida em três salas, a curadoria de ”Yorùbàiano” articula três materiais orgânicos que, segundo o artista, compõem histórica e simbolicamente o “corpo cultural diaspórico”. O açúcar rememora a ganância da monocultura canavieira escravocrata, evocando ao mesmo tempo a divindade ou orixá Exú, a quem é ritualmente oferecida a cachaça. Ayrson também se vale da polissemia do azeite de dendê, ora simbolizando os fluidos vitais do corpo humano, quais sejam, o sangue, o sêmen e a saliva.

Em uma das salas, a instalação “Regresso à pintura baiana” (2002) envolve o tingimento de uma maquete da Igreja do Rosário dos Pretos, bem como uma parede da Estação com o dendê, saindo do campo da representação da pintura matérica, característica dos anos 1980, para a instalação, valendo-se do precioso óleo e sua coloração amarelo-terrosa. A videoinstalação “O pintor e a paisagem” (2011), a instalação “Barrueco” (2003), além da série fotográfica “Sangue vegetal” (2005), entre outras instalações e fotografias completam a sala.

Ayrson Heráclito. Regresso à pintura baiana – Maquete da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. 2002-2022. (Foto: Jaime Acioli)

A carne curtida no sal ou charque, por sua vez, alude às violências sofridas pelo povo negro escravizado ao mesmo tempo que remete ao orixá Ogum, a quem é oferecido o sal nos rituais do Candomblé. Nesse espaço são exibidas a instalação “Segredos Internos” (1994-2010), documentação da performance “Transmutação da carne” (2000), além do registro da performance ritualística “Sacudimento” (2022), realizada pelo artista ao redor do edifício da Estação Pinacoteca, onde funcionou o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão responsável pela detenção de dissidentes políticos pelo regime civil-militar nos anos 1960 e 70.

Ayrson Heráclito. Barrueco Colar. Série Sangue Vegetal. 2005. Fotografia. 106 x 160 cm. Divulgação

A terceira sala expositiva encerra a visita com a grande instalação fotográfica “Borí” (2008-2011), cuja performance foi adquirida pelo Programa de Patronos da Arte para o acervo da Pinacoteca, com doze grandes fotografias do ritual de fazer a cabeça ou “borí”, representando cada um dos 12 orixás do xirê.

Ayrson Heráclito. Ogum – da série Oferenda à cabeça, 2008-2011. Divulgação

No dia 11 de agosto, o espaço Octógono, no edifício da Pinacoteca Luz, será palco do ritual sagrado, com duração de cerca de duas horas, conduzido pelo artista, com a presença de músicos e 12 iniciados da religião africana.

Ayrson Heráclito (Macaúbas, Bahia, 1968) é professor universitário, historiador da arte, curador e ogã de Candomblé de matriz Jejê-Mahi. Sua trajetória artística inicia-se nos anos 1980 na Bahia. O artista se consolida, em seus cerca de 35 anos de trajetória, como um dos mais significativos nomes no Brasil a construir uma obra dedicada a elaborar ritos de cura, negociando outras relações com um passado nefasto, constantemente sacudido e ritualisticamente eliminado em banhos de ervas (“ìwáẹ̀ orí”) com águas frescas (“omi odò tó ń sàn”) ou no alimento oferecido às cabeças (“borí”), para que se mantenha o equilíbrio do corpo e do espírito.

Exposição: “Ayrson Heráclito: Yorùbáiano”
Curadoria: Amanda Bonan, Ana Maria Maia e Marcelo Campos
Período expositivo: 02 de abril a 22 de agosto de 2022

Local:  Pinacoteca Estação
Endereço: Largo General Osório, 66 – Luz – São Paulo – SP
Horários de funcionamento: 10 às 18 horas, de segunda a sábado
Telefone: (11) 3335 4990
Entrada gratuita

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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