Precisamos falar da saúde mental dos atletas e de todos nós

.Por Alexandre Padilha.

Os impactos da vida contemporânea sobre a saúde mental de todos nós foram agravados pela pandemia. Ela provocou medo, sofrimento pela morte de parentes e amigos, angústia entre os trabalhadores de saúde e dos serviços essenciais, a interrupção dos atendimentos com psicólogos e psiquiatras, a perda de renda e a preocupação do desemprego.

Simone Biles (foto coi – toquio2020 – div)

Os aspectos da saúde mental dos atletas nas Olimpíadas de Tóquio trazem à tona o debate psicológico, que vai além da dificuldade emocional causada pela pandemia, que os intensificou. Atletas de diversos países assumiram publicamente que enfrentam algum tipo de sofrimento mental e desistiram de competições.

O caso mais simbólico é o da ginasta americana Simone Biles, melhor do mundo e ganhadora de quatro medalhas de ouro em Olimpíadas. Após o anúncio de sua saída da disputa por equipes, e depois da final individual geral, Simone afirmou sentir “carregar o peso do mundo em seus ombros” e que preferia optar por sua saúde emocional. A ginasta norte-americana também afirmou que os atletas são pessoas e que às vezes é preciso dar um passo atrás.

A exposição das vulnerabilidades emocionais dos atletas olímpicos mostra que cuidados com saúde mental são fundamentais e que todos podem passar por crises. É uma condição normal do ser humano. E elas podem ser acarretadas por diversos fatores, em atletas de alto rendimento, pela pressão e grandes expectativas.

Claro que a pandemia da Covid-19 piorou, e muito, essas questões. Isolamento social e o lockdown em alguns países, prejudicou os rendimentos. Esses atletas carregam expectativas de seus países em meio a maior pandemia que o mundo já enfrentou.

Muitos deles são jovens demais e com muitas responsabilidades. Como é o caso da nossa metalista no skate, Rayssa Leal, que tem 13 anos. O tema foi abordado na coluna do jornalista Leandro Iamin para a CNN Brasil onde elucidou que o ambiente da ginástica olímpica é muito mais rígido que o do skate, por exemplo. “Em comparação com outros ambientes competitivos, a lembrança que o skate deixará em sua estreia olímpica é a da leveza e da solidariedade. Competidoras comemorando os acertos das próprias concorrentes e sorrindo mesmo quando as coisas não dão certo foram uma constante. Não pareceu um ambiente de pressão tóxica”, escreveu.

Por conta da idade, Rayssa teve o apoio da mãe ao longo da competição, e afirmou ao ser questionada pela idade que “é só fazer o que ama e se divertir”.

Rebeca Andrade, nossa primeira medalhista da ginástica artística da história, declarou que prioriza o trabalho psicológico, que foi decisivo para a conquista da medalha de prata e da medalha de ouro. Rebeca destacou que “atletas não são robôs, são humanos” e que também precisam se divertir nas competições.

Realizada em meio a pandemia, as Olimpíadas de Tóquio reafirmam que o cuidado com a saúde mental é imprescindível, ainda mais neste momento, de tantas perdas. Além de altamente estressante, os atletas estão lidando com a falta de apoio do público nas competições. Os transtornos mentais nunca estiveram tão em pauta como neste momento e ainda bem, precisamos falar deles. Tudo bem não estar bem sempre.

Para todos nós, a nossa Olimpíada é o dia a dia. Cada dia somos submetidos a estresses, desafios e a bater recordes de sobrevivência. Por isso, uma das questões chave é o cuidado psicológico de todos nós e o SUS tem o papel importante no atendimento à saúde mental da nossa população.

*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.