A última decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a vacina russa Sputnik V foi a comprovação de que a Agência está afinada com o bolsonarismo no sentido de permitir aumento do número de mortos pela Covid-19. Obtusa e em plena pandemia que já vitimou cerca de 500 mil brasileiros, a Anvisa foi incapaz de estabelecer um diálogo com pesquisadores e órgãos reguladores de outros países para agilizar e ampliar o acesso à vacina russa, ou mesmo vetar se fosse o caso.

(foto alexey fedenkov – pl)

A Anvisa quer dados da vacina russa no Brasil que já existem no mundo, coletados por agências reguladoras, autoridades e cientistas.

Numa decisão estranhíssima tecnicamente e temerosa politicamente, a Anvisa limitou a importação da vacina por seis estados num total de apenas 928 mil dose para depois “avaliar de se não há risco para a população”. No entanto, basta dar uma busca na internet para encontrar dados sobre a vacina que já foi aplicada em dezenas de países.

Neste link, por exemplo, a Anvisa poderia confirmar esses dados com as autoridades de Saúde do Bahrein. Segundo informação, um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde do Bahrein com 5 mil vacinados pela Sputnik V houve eficácia de 94,3% e, mais importante, nenhum evento adverso sério associado à vacinação e sem mortes relacionadas à vacinação. O estudo foi feito entre fevereiro e abril de 2021. (Outro Link). Até o Uol deu a notícia (LINK). Qual é a crítica da Anvisa em relação às autoridades do Bahrein?

A Argentina, ao lado, já recebeu quase 9 milhões de doses da vacina Russa Sputnik V. A Anvisa poderia obter informações com o Ministério da Saúde da Argentina e com infectologista da Universidade Nacional de Córdoba, Hugo Pizzi. (LINK). Qual é a negativa da Anvisa em relação às autoridades da Argentina?

Há também um estudo publicado na Lancet com a análise de dados de 19.866 voluntários, que receberam a primeira e a segunda doses da vacina Sputnik V, ou seu placebo. Segundo o artigo, a Sputnik V também apresentou “excelente perfil de segurança” já que a maioria dos eventos adversos (94%) foram leves e incluíram sintomas como os da gripe, reações no local da injeção, dor de cabeça e astenia – não foram registrados casos de alergias fortes ou de choque anafilático.(LINK).

Esses são só alguns exemplos. A decisão da Anvisa sobre a Sputnik V deixou claro que órgão tomou uma decisão política e não científica, que com certeza contribui para o aumento das mortes por Covid-19. Essas informações já existem em inúmeros países, bastava a Anvisa ter agido, estabelecido relações e acompanhado a aplicação da Sputnik em outros países.

A vacina Sputnik V foi a primeira aprovada mundialmente. Em agosto de 2020, a Rússia aprovou o uso da vacina. De lá até a obtusa ‘aprovação’ da Anvisa, a vacina havia sido aplicada ou aprovada por 66 órgãos reguladores de diversos países no mundo inteiro. Se não quisesse informações da Rússia, poderia ter dos órgãos reguladores e dos cientistas do México, da Turquia, da Argentina, Hungria e tantos outros. Ao todo, a Anvisa consegue dados de países que têm metade da população mundial.

Um decisão obtusa, fechada e típica de governos autoritários e sem relações científicas internacionais. Se tivesse interesse em vacinar a população e não em fazer política, a Anvisa poderia já ter buscado os resultados da aplicação da vacina em órgãos reguladores de outros países.

Não há qualquer lógica científica ou racional na liberação da vacina russa em uma quantidade tão pequena, a não ser para impedir que os governadores do Nordeste vacinem a população e salvem vidas. A Anvisa totalmente aparelhada tenta impedir a vacinação fora do controle político do governo Bolsonaro, nem que para isso custe a vida de brasileiros.

A Anvisa no governo Bolsonaro tem um histórico de ações ideológicas contra qualquer ação para salvar vidas fora do controle do governo federal. (LINK)