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Mostra reúne obras de Emanoel Araujo que combinam geometria cromática e divindades da cosmologia Iorubá e do Candomblé

Em São Paulo – Até o dia 28 de agosto, fica em cartaz na Galeria Simões de Assis a exposição “Cosmogonia dos Símbolos”, que reúne obras de Emanoel Araujo. Artista de grande reconhecimento nacional e internacional, Emanoel Araujo protagoniza a mostra com trabalhos recentes e históricos, acompanhados por um ensaio crítico assinado pela antropóloga, historiadora e pesquisadora Lília Moritz Schwarcz. O artista – que também atua extensa e intensamente como colecionador, curador, crítico, gestor cultural, cenógrafo, conservador e museólogo – é um nome fundamental na história da arte contemporânea no país, com uma pesquisa singular sobre a identidade e a cultura afro-brasileira.

Araujo nasceu em Santo Amaro da Purificação, em uma tradicional família de ourives, estudando também artes gráficas na Imprensa Oficial local. Ainda jovem, começou a desenvolver seus primeiros trabalhos e a aprender marcenaria e linotipia, realizando sua primeira individual em 1959. Na década de 1960, Araujo mudou-se para Salvador para estudar na Escola de Belas Artes da Bahia (UFBA), onde estudou gravura. Dali em diante, trilhou uma carreira brilhante, com uma obra coesa que pensa e repensa a reestruturação do universo da arte e da cultura negra, enfatizada em seus trabalhos por meio de formas e volumes geométricos aliados a contrastes acirrados, ângulos marcados e cores fortes.

Emanoel Araujo, Onilê, 2021

“Cosmogonia dos Símbolos” apresenta três diferentes séries de Araujo – Orixás, Relevos e Navios. A mostra estabelece um diálogo com quatro pinturas de outro artista baiano: Rubem Valentim, que deixou parte de seu legado a Emanoel. Assim, algumas obras inacabadas de Valentim foram incorporadas a trabalhos da série Orixás – esculturas totêmicas de parede que articulam diferentes elementos incorporados e apropriados, como espelhos, conchas, miçangas, fotografias e objetos, para além das telas de Valentim.

Esses são trabalhos que contam com uma escala monumental, imponente, e que erguem-se em planos geométricos cheios de movimento, laqueados por cores vibrantes. Os totens são ladeados por outras pinturas históricas de Valentim que pontuam o espaço expositivo reverberando essas mesmas formas e cores em composições mais sintéticas e mínimas, o que contribui para uma ampliação do potente diálogo entre os dois artistas, intensificado com esse pareamento.

Por entre os orixás apresenta-se também “Navio”, obra que integra um grande conjunto de trabalhos que lidam com a questão histórica dos navios negreiros. Essas embarcações, segundo Schwarcz, “representaram um símbolo maior da perversidade do sistema escravocrata”. “Cosmogonia dos Símbolos” também traz dois “Relevos” de Araujo, trabalhos icônicos do artista em sua articulação da geometria construtiva que marca grande parte de sua produção.

Emanoel Araujo, Máscara, 1995

Também de acordo com Schwarcz, no ensaio crítico que acompanha as exposições: “(…) as obras de Emanuel Araujo revelam o quão profundas, profícuas e frequentes foram e são as relações entre a África e o Brasil, e vice-versa também. Pensado nesses termos, o trabalho desse artista polígrafo parece ocupar o lugar de Exu que, no candomblé, é o orixá ‘mensageiro”, intermediário entre seres humanos e divindades.”

Mas as construções do artista não se resumem apenas aos seus aspectos construtivos e geométricos: de acordo com Schwarcz, as esculturas verticais e relevos de parede “estabelecem uma comunicação com os objetos votivos de religiões africanas da época dos negreiros. As obras acomodam referências gráficas e pintura cromática com alegorias às divindades da cosmologia Iorubá e à simbologia do Candomblé”.

Emanoel Araujo, Iemanjá, 2021

Reconhecendo a importância da vida e obra de Araujo, a Simões de Assis celebra o artista e sua contribuição histórica, sua longa e prolífica carreira, seu incomparável legado e seu incansável trabalho. Juntas, as duas exposições (em São Paulo e também em Curitiba), configuram-se como um esforço de abarcar a complexidade e a diversidade da multifacetada e vasta produção de Emanoel Araujo, revelando um conjunto potente em sua simbologia, materialidade, discurso e história.

Simões de Assis – São Paulo:
Visitação: de 26/06 a 14/08/2021; segunda a sábado,10h-19h e aos sábados, 10h-15h – apenas com hora marcada.

(Carta Campinas com informações de divulgação)

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